Boi Bombeiro: entenda por quê o gado é essencial para controlar incêndios no Pantanal
A técnica do “boi bombeiro” tem ganhado destaque no Brasil, com a introdução de gado em áreas com grande acúmulo de matéria seca para prevenir incêndios florestais.
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado incêndios devastadores em diferentes biomas, como Pantanal, Cerrado e Amazônia. Em resposta, uma técnica inovadora tem chamado a atenção: o “boi bombeiro”. A prática consiste em utilizar bovinos para consumir a matéria seca e altamente inflamável presente em pastagens nativas, reduzindo, assim, o risco de incêndios. Segundo Urbano Abreu, pesquisador da Embrapa Pantanal, essa estratégia oferece uma solução sustentável e eficaz no combate às queimadas.
“O termo ‘boi bombeiro’ não significa que os animais vão apagar incêndios, mas sim prevenir sua ocorrência ao consumir a matéria seca acumulada, que funciona como combustível para o fogo”, explica Abreu. O pesquisador destaca que uma vaca pantaneira de 350 kg pode consumir até 1.900 kg de matéria seca por ano, reduzindo significativamente o risco de grandes incêndios em áreas de pastagens nativas.
A técnica, amplamente utilizada em países como Estados Unidos, Portugal e Espanha, envolve um manejo rotacionado dos animais. Nos Estados Unidos, fazendas utilizam o pastejo rotacionado como uma ferramenta eficaz na prevenção de incêndios, enquanto, em Portugal e Espanha, cabras e cavalos são usados para controlar o acúmulo de matéria seca em áreas montanhosas propensas a incêndios.
No Pantanal, a aplicação do “boi bombeiro” requer planejamento estratégico e monitoramento constante. “O sistema precisa ser bem gerido. Não basta deixar os bovinos pastando livremente; é necessário direcionar os animais para as áreas com maior concentração de matéria seca antes que essa vegetação se torne inflamável”, alerta Abreu. Além disso, o pesquisador sugere o uso de suplementos nutricionais, como a ureia, para aumentar a eficiência dos animais em áreas críticas.
A expansão dessa técnica no Brasil pode ser uma importante aliada na luta contra os incêndios florestais, especialmente em biomas como o Pantanal, onde a baixa umidade e os fortes ventos aumentam a vulnerabilidade ao fogo. Segundo Abreu, políticas públicas que incentivem o repovoamento temporário de bovinos em áreas protegidas poderiam contribuir ainda mais para a prevenção de queimadas. “Em alguns países europeus, o estado chega a alugar rebanhos para evitar o acúmulo de matéria seca em áreas propensas a incêndios. Esse modelo pode ser replicado aqui no Brasil”, conclui.
Com a crescente ameaça das mudanças climáticas e a ocorrência de secas severas, o “boi bombeiro” pode ser uma solução econômica e sustentável para prevenir a destruição causada pelo fogo. O uso de gado, aliado a um manejo cuidadoso, oferece um serviço ambiental essencial, ajudando a proteger a biodiversidade e reduzir os impactos das queimadas em áreas rurais e de conservação.