Brasil lidera produção e exportação de algodão com tecnologia e sustentabilidade

Marcio Portocarrero, diretor executivo da Abrapa, fala sobre a trajetória do algodão no Brasil, a superação de desafios e a conquista de um lugar de destaque no mercado global, com foco em sustentabilidade e inovação.

O Brasil se consolidou como um dos principais produtores e exportadores de algodão do mundo, um feito notável considerando que há 25 anos o país era um dos maiores importadores da fibra. Marcio Portocarrero, diretor executivo da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), compartilhou em entrevista exclusiva detalhes sobre a trajetória que levou o Brasil a essa posição de destaque, enfatizando a importância da sustentabilidade, inovação tecnológica e rastreabilidade na cadeia produtiva do algodão.

Segundo Portocarrero, a produção de algodão no Brasil começou a se transformar na década de 1990, quando o país, que sofria com a praga do bicudo-do-algodoeiro, viu a necessidade de recuperar suas lavouras. “Há 25 anos, éramos o segundo maior importador de algodão. Nossa indústria textil estava entre as maiores do mundo, mas a produção interna era insuficiente e de baixa qualidade”, relembra o diretor executivo.

A partir de então, um grupo de grandes produtores decidiu retomar a produção de algodão, investindo em tecnologia e aprendizado em países como Estados Unidos e Austrália. “O que nos trouxe até aqui foi a determinação desses produtores em serem os melhores do mundo. Eles aprenderam com os melhores e trouxeram esse conhecimento para o Brasil”, explica Marcio.

Tecnologia e Sustentabilidade: Chaves para o Sucesso

Um dos grandes diferenciais do algodão brasileiro é a combinação de tecnologia de ponta e práticas sustentáveis. Todas as fazendas produtoras são georreferenciadas, permitindo o monitoramento detalhado de cada talhão. “O produtor acompanha do escritório o nível de fertilidade, a presença de pragas e doenças, utilizando drones para aplicar produtos de forma precisa e econômica”, destaca também. Essa abordagem, além de reduzir custos, minimiza o impacto ambiental, um ponto crucial para o sucesso no mercado global.

Além disso, muitas fazendas possuem biofábricas que produzem seus próprios defensivos biológicos, substituindo boa parte dos químicos anteriormente utilizados. “Hoje, cerca de 34% dos produtos químicos utilizados no combate às pragas são substituídos por biológicos, muitas vezes produzidos na própria fazenda”, complementa.

Rastreabilidade e Qualidade Reconhecida

Outro aspecto que coloca o Brasil à frente no mercado mundial é o sistema de rastreabilidade único no mundo, desenvolvido pela Abrapa. “Rastrear fardo a fardo, desde a produção até a prateleira da loja, é algo que só o Brasil faz. Isso traz uma segurança enorme para o cliente, seja ele na Ásia ou aqui no Brasil”, explica Portocarrero. Esse sistema de rastreabilidade não só garante a qualidade do algodão brasileiro, como também permite ao consumidor final conhecer a origem da matéria-prima, o que é um diferencial competitivo importante.

Além da rastreabilidade, a qualidade do algodão brasileiro tem sido reconhecida mundialmente. Hoje, o Brasil exporta algodão até para o Egito, conhecido pela excelência em fibras têxteis. “Chegamos a um ponto em que vendemos algodão para o Egito, que o utiliza em blends com o algodão local para produzir tecidos finíssimos”, orgulha-se Marcio.

Desafios e Perspectivas Futuras

Apesar dos avanços, Portocarrero alerta para os desafios que ainda existem. A competição com países como os Estados Unidos, que possuem subsídios governamentais significativos, exige que o Brasil mantenha sua eficiência e inovação. “O produtor brasileiro não tem o mesmo suporte que o americano, por isso, precisamos ser mais eficientes em todos os aspectos”, enfatiza.

No entanto, o futuro parece promissor. O compromisso das grandes marcas mundiais com a sustentabilidade tem impulsionado a demanda pelo algodão brasileiro. “As marcas globais, como Adidas e Nike, exigem matéria-prima certificada e sustentável. Isso nos coloca em uma posição privilegiada no mercado mundial”, ressalta.

Além disso, a Abrapa tem investido em programas educacionais como a Cotton School, que visa formar a próxima geração de líderes na cadeia produtiva do algodão. “Estamos preparando os jovens para continuar essa trajetória de sucesso, garantindo que o Brasil mantenha sua liderança mundial”, afirma.

O Brasil não só recuperou sua capacidade de produção de algodão, como se tornou uma referência mundial em qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade. Esse sucesso é fruto de décadas de investimento em tecnologia e gestão eficiente, aliados a um compromisso inabalável com a sustentabilidade. Como diz Marcio Portocarrero, “o algodão brasileiro hoje é reconhecido pela sua qualidade superior, e isso é o resultado do trabalho árduo e da inovação contínua dos nossos produtores.”