Brasil no mercado de carbono: oportunidades e desafios para a sustentabilidade

Janaína Dallan, CEO da Carbonext, explora o mercado de carbono no Brasil, desafios de monitoramento e o papel do país nas metas climáticas globais, além da importância do impacto socioeconômico e ambiental dos projetos.

Com o mercado de carbono em expansão, a expectativa para a participação do Brasil nesse cenário global é promissora, mas desafiante. Em entrevista ao Planeta Campo Talks, Janaína Dallan, fundadora e CEO da Carbonext, destaca o papel fundamental dos créditos de carbono na conservação ambiental e na geração de renda para comunidades locais. Com mais de duas décadas de atuação no setor, a engenheira florestal e representante em fóruns climáticos internacionais compartilha sua trajetória e a evolução do mercado de carbono no Brasil, ressaltando as transformações ocorridas desde o Protocolo de Kyoto até o Acordo de Paris.

Segundo Janaína, o Brasil possui uma matriz energética predominantemente limpa e grandes áreas de florestas que podem ser usadas para gerar créditos de carbono através da preservação e da restauração ambiental. Ela explica que, enquanto em países desenvolvidos as emissões estão ligadas ao uso de combustíveis fósseis, no Brasil, 75% das emissões provêm do desmatamento e das mudanças no uso do solo. Esse perfil coloca o país em posição de destaque para liderar projetos de carbono baseados na natureza, que podem reduzir emissões e capturar carbono no solo.

Os projetos da Carbonext, por exemplo, vão além da venda de créditos de carbono. Em áreas como a Amazônia, há um impacto direto nas comunidades locais, que muitas vezes carecem de acesso a serviços básicos. “Nosso trabalho é desenvolver um diagnóstico social e implementar ações que promovam educação e saúde, para que o projeto de preservação seja viável para todos”, afirma Janaína.

Desafios e o Futuro

Com a meta de alcançar US$ 50 bilhões no mercado de carbono global até 2030, Dallan destaca que o Brasil pode representar até metade desse mercado. No entanto, a falta de estrutura para o monitoramento em larga escala e a ausência de políticas públicas são desafios a serem superados. “Precisamos de uma estrutura regulatória sólida e mais incentivos governamentais para que esses projetos avancem e para que o Brasil se torne referência global no mercado de carbono”, comenta.

Além disso, Janaína salienta que o mercado de carbono não pode ser apenas uma questão financeira, mas deve também contribuir para a justiça social e a preservação ambiental. Para ela, o engajamento público-privado, junto ao monitoramento por satélite, são ações que podem sustentar um mercado transparente e confiável.

Expectativas para a COP 29 e COP 30

Com a COP 29 em Dubai e a COP 30 em Belém do Pará, Janaína vê as conferências como oportunidades cruciais para consolidar a liderança brasileira nas negociações climáticas. “A COP 30, no Brasil, será um marco para evidenciar nossos projetos de créditos de carbono e soluções baseadas na natureza”, explica. Ela também destaca a necessidade de fortalecimento do artigo sexto do Acordo de Paris, que regula os mercados de carbono entre países, para dar mais legitimidade às ações climáticas.

Ao final da entrevista, Janaína reforça o compromisso da Carbonext em transformar as práticas de preservação ambiental em fontes de renda sustentável, beneficiando diretamente comunidades vulneráveis e preservando as florestas brasileiras.