Nos últimos anos, o Brasil tem se consolidado como um dos principais polos de produção de biocombustíveis do mundo, e, dentro desse cenário, a carinata, uma planta da família da canola, vem se destacando como uma opção promissora para o agronegócio brasileiro. Com a previsão de um aumento significativo na produção de carinata, que deve saltar de 10.000 toneladas em 2024 para 100.000 toneladas em 2025, o cultivo dessa planta promete trazer muitas oportunidades para o país.
A planta tem se mostrado uma excelente alternativa de cultivo para entressafra, especialmente por sua capacidade de proteger o solo e contribuir para a rotação de culturas. Além disso, a carinata é uma importante fonte de matéria-prima para a produção de biocombustíveis, como o SAF (Sustainable Aviation Fuel), o combustível sustentável de aviação, e também para o diesel renovável e o biodiesel. Para entender melhor como a carinata tem ganhado espaço no Brasil e as perspectivas para o futuro dessa cultura, conversamos com Bruno Laviola, chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia.
O que é a Carinata e Por Que Ela Está Ganhando Espaço no Brasil?
De acordo com Bruno Laviola, a carinata (Brassica carinata) é uma planta originária da região do Mediterrâneo e, embora seja uma cultura nova no Brasil, já apresenta um grande potencial para o agronegócio nacional. Ela pertence à mesma família da canola e do nabo forrageiro, culturas já bastante conhecidas no Brasil. A carinata tem se destacado como uma alternativa para a produção de biocombustíveis, especialmente o SAF, que é um combustível sustentável para a aviação.
“O principal fator que faz do Brasil um potencial líder na produção de carinata é justamente a combinação de sua grande área de cultivo e o clima favorável, especialmente nas regiões Sul e Central do país. Além disso, a carinata se encaixa muito bem como uma cultura de segunda safra, aproveitando o espaço deixado por culturas como a soja, que ocupa cerca de 45 milhões de hectares no país”, explica Laviola.
O Potencial do Brasil no Cultivo de Carinata
As regiões mais promissoras para o cultivo da carinata no Brasil incluem o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Essas áreas possuem o clima subtropical e as altitudes ideais para o crescimento da planta, que, embora originalmente adaptada a climas mais frios, tem se mostrado resistente em diferentes condições.
“A carinata se adapta bem em áreas de altitudes superiores a 800 metros, como em algumas regiões do cerrado brasileiro. A possibilidade de utilizar a carinata em áreas já ocupadas por culturas como soja, por exemplo, torna o Brasil um player estratégico na produção dessa planta”, destaca Laviola.
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Desafios no Cultivo de Carinata
Apesar das perspectivas positivas, a carinata ainda enfrenta alguns desafios no Brasil. Um dos maiores obstáculos é o melhoramento genético da planta. Atualmente, as cultivares disponíveis no país foram desenvolvidas em outros países e precisam passar por adaptações para se ajustar ainda mais às condições climáticas e de solo do Brasil. Além disso, o desenvolvimento de sementes locais é crucial para garantir a segurança do fornecimento para os agricultores.
Outro desafio é a infraestrutura e logística para o escoamento da produção. Para que o cultivo de carinata seja viável para o agricultor, é necessário garantir canais de comercialização eficazes e competitivos, bem como políticas públicas que incentivem o cultivo da planta e apoiem a transição para uma agricultura mais sustentável.
O Futuro da Carinata no Brasil
Com a projeção de um aumento significativo na produção de carinata nos próximos anos, especialmente em 2025, a expectativa é que o Brasil se torne um dos maiores produtores mundiais dessa cultura. Segundo Laviola, o Brasil tem todos os ingredientes necessários para alcançar esse status: clima favorável, uma grande área agrícola disponível e expertise no cultivo de oleaginosas.
“Em 2025, esperamos atingir a marca de 100.000 toneladas de carinata, um crescimento impressionante se considerarmos que no ano passado a produção foi de apenas 10.000 toneladas. Isso representa um grande passo para a consolidação da carinata como uma cultura estratégica para o Brasil, tanto para a agricultura quanto para o setor de biocombustíveis”, afirma o especialista.
Com o apoio de tecnologias de ponta e a colaboração de instituições como a Embrapa, o Brasil está no caminho para explorar todo o potencial da carinata e, assim, diversificar suas fontes de biocombustíveis, além de oferecer aos agricultores mais uma alternativa para garantir a rentabilidade e sustentabilidade do agronegócio.
A carinata se destaca como uma cultura inovadora e promissora para o Brasil, especialmente em um momento de crescente demanda por biocombustíveis sustentáveis. Seu potencial para a produção de SAF e outras formas de combustíveis renováveis coloca o país em uma posição estratégica no mercado global de energia limpa. Com a continuidade de pesquisas e investimentos, a carinata pode se consolidar como uma das principais culturas do agronegócio brasileiro nos próximos anos, contribuindo para um futuro mais sustentável tanto para a agricultura quanto para o setor energético.
