
Com 100 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil, sendo 40 milhões com aptidão agrícola ou pecuária, o país se prepara para reverter essa situação. O objetivo é recuperar essas áreas, permitindo a produção de alimentos e a pecuária intensiva de forma sustentável, sem a necessidade de expandir para novas terras.
Em entrevista exclusiva ao Planeta Campo Talks, Pedro Alves Corrêa Neto, secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, compartilhou o plano para o lançamento de uma plataforma de atração de investimentos na COP 30. A iniciativa visa recuperar áreas degradadas e, ao mesmo tempo, gerar oportunidades para os produtores rurais.
“Queremos utilizar as áreas já abertas e antropizadas, que estão em processo de degradação, para a produção de alimentos de forma sustentável. Isso significa que podemos aumentar a produtividade sem abrir novas áreas, protegendo nossas florestas e contribuindo para a segurança alimentar global”, explicou Pedro Alves.
O projeto de recuperação de pastagens degradadas é essencial para a sustentabilidade da agropecuária no Brasil, considerando que o país é um dos maiores produtores de alimentos e carne do mundo.
Pedro destacou que essa plataforma será uma ponte entre o setor agropecuário e os recursos financeiros necessários para alcançar as metas brasileiras de expandir as áreas produtivas.
“O Brasil tem condições de liderar a recuperação dessas áreas, criando soluções que beneficiem tanto o meio ambiente quanto os produtores rurais (…) Nosso grande desafio é estabelecer uma
agenda de ação que seja atual e aderente aos grandes desafios de convivência climática”, complementa.
Plano ABC+
O Brasil já se encontra em seu segundo ciclo de um plano setorial que visa transformar a agropecuária em uma solução para as mudanças climáticas. O plano ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono) tem como foco o uso de tecnologias sustentáveis que promovem um aumento na produtividade sem expandir a fronteira agrícola, e, mais importante ainda, sem avançar sobre áreas de floresta.
Para Pedro é necessário uma plataforma bem estruturada, que facilite o acesso aos investimentos, mas ele enfatiza: “a comunidade mundial precisa parar de falar de acesso ao financiamento climático para começar a promover o acesso ao financiamento climático”.
“Temos que olhar para o problema das mudanças climáticas em escala global. O Brasil, com o seu setor agropecuário, tem a capacidade de ser uma parte importante da solução (…). O país tem uma grande capacidade de influenciar as políticas globais de descarbonização, aproveitando sua vasta extensão territorial e o potencial para recuperação de áreas degradadas”, conclui.
Próximos passos
O próximo passo dessa agenda é levar essa plataforma à comunidade internacional, com o lançamento oficial previsto para a COP 30, em Belém, no Brasil. Nesse evento, o país pretende apresentar o projeto e engajar outras nações e economias na busca por soluções financeiras para o enfrentamento das mudanças climáticas.
“Primeiro, formulamos e redigimos os documentos oficiais, submetemos para apreciação internacional e, em seguida, continuamos discutindo com a sociedade, o setor produtivo e outros países. Se tudo correr bem, lançamos a iniciativa na COP 30, em Belém”, explica.
Por fim, Pedro reforça que a recuperação das pastagens degradadas vai além da necessidade de aumentar a produção de alimentos, sendo também essencial para a preservação ambiental e a redução das emissões de carbono. Segundo ele, o setor agropecuário, ao adotar sistemas produtivos mais resilientes e eficientes, tem o potencial de desempenhar um papel fundamental no sequestro de carbono, contribuindo diretamente para a mitigação das mudanças climáticas.
Financiamento climático
A COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, resultou na aprovação de um acordo sobre a Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG) de financiamento climático, dentro do Acordo de Paris. A decisão estabeleceu que os países desenvolvidos devem liderar o fornecimento de, pelo menos, US$ 300 bilhões anuais até 2035 aos países em desenvolvimento. Esses recursos têm como objetivo apoiar a implementação de ações de mitigação de gases de efeito estufa e adaptação aos impactos das mudanças climáticas.
Embora represente um avanço em relação ao compromisso anterior de US$ 100 bilhões anuais, o valor estabelecido foi considerado insuficiente pelos países em desenvolvimento e pelo Brasil. Estudos indicam que as necessidades financeiras para enfrentar a crise climática ultrapassam trilhões de dólares anuais.