COP: Como a Conferência Mundial do Clima impacta o agronegócio brasileiro?

Daniel Vargas, professor da FGV e speaker do evento pré-COP 29, discute o impacto das decisões globais nas práticas agrícolas do Brasil, os desafios do financiamento climático e a importância da mensuração correta das remoções de carbono

Brasil busca protagonismo nas negociações da COP 29

A 29ª Conferência das Partes (COP 29), que será realizada em Bacu, no Azerbaijão, traz à tona discussões centrais sobre o futuro do combate às mudanças climáticas. Daniel Vargas, professor de economia da FGV, destacou a importância do envolvimento do setor agropecuário brasileiro nessas negociações, que têm o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme o Acordo de Paris. O Brasil, com sua rica biodiversidade e vastas florestas preservadas, tem uma posição chave nesse debate global.

“Uma COP é uma reunião global de lideranças públicas, privadas e sociais, onde o mundo presta contas do que está sendo feito em termos de ações climáticas, além de fornecer subsídios e expectativas para futuras ações,” afirmou Vargas.

Financiamento climático: a questão dos US$ 100 bilhões

Um dos pontos mais delicados é o financiamento climático. Vargas lembrou que, desde a COP 15, realizada em 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a destinar US$ 100 bilhões por ano para apoiar as metas climáticas dos países em desenvolvimento, como o Brasil. No entanto, o cumprimento dessa promessa ainda é incerto.

“Apesar de promessas feitas, o montante de US$ 100 bilhões ainda não foi cumprido de forma consistente. A burocracia para acessar esses recursos é enorme, e o valor, quando distribuído entre todos os países, acaba sendo insuficiente para gerar impacto real,” observou o especialista.

Remoção de carbono e o papel do agro brasileiro

Outro ponto crucial levantado por Vargas foi a necessidade de maior reconhecimento das práticas agrícolas que removem carbono da atmosfera, como as adotadas pelo agronegócio brasileiro. Segundo ele, as métricas globais ainda são focadas na redução de emissões, enquanto o Brasil se destaca por sua capacidade de remoção de carbono por meio da fotossíntese.

“Precisamos de uma gramática científica que traduza essas remoções em benefícios econômicos. Hoje, as metodologias globais não reconhecem adequadamente essas práticas tropicais,” explicou Vargas, enfatizando a importância de o Brasil liderar a inclusão desse critério nos inventários climáticos globais.

Implementação do Código Florestal: um passo essencial

Vargas também apontou que o Código Florestal brasileiro, reconhecido internacionalmente como uma legislação robusta, precisa ser implementado com mais vigor para capitalizar os ativos ambientais do país. “Cumprir o Código Florestal não é apenas uma questão de legalidade, mas uma forma de mostrar ao mundo as nossas virtudes e de capitalizar o valor da preservação das florestas em propriedades rurais,” destacou.