
O Brasil conta, desde 2010, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). No entanto, passados mais de 15 anos, muitas propriedades rurais ainda não têm acesso à coleta seletiva ou a soluções adequadas para o descarte de embalagens e outros resíduos. Diante desse cenário, a empresa MIG Plus, especializada em soluções para a nutrição animal, resolveu fazer diferente.
Com um ano de funcionamento, o programa MIG Recicla já recolheu e deu o destino correto a mais de 14 toneladas e meia de embalagens plásticas em cinco estados brasileiros. A iniciativa surgiu da dúvida sobre o enquadramento da empresa na legislação mais recente, que ampliou a obrigatoriedade da logística reversa para diversas categorias de produtos.
“Mesmo não sendo obrigados, entendemos que essa seria uma excelente oportunidade para gerar valor à empresa, ao produtor e ao meio ambiente”, afirma a engenheira ambiental Júlia Vanin, responsável pelo projeto na MIG Plus.
Como nasceu o MIG Recicla
A dúvida da equipe técnica começou com a análise do Decreto nº 10.936/2022, que regulamenta a PNRS e institui o Sistema Nacional de Logística Reversa para embalagens em geral. A norma foi complementada pelo Decreto nº 11.413/2023, que criou os certificados de crédito de reciclagem. Juntas, essas regras ampliaram as exigências para empresas que colocam embalagens no mercado.
Ao aprofundar a análise legal, a MIG Plus identificou que suas embalagens, por serem voltadas ao setor agropecuário, não entram na chamada “fração seca dos resíduos sólidos urbanos” e, por isso, não estão obrigadas à logística reversa. Ainda assim, a empresa decidiu estruturar o programa MIG Recicla.
“Optamos por seguir um modelo como se estivéssemos obrigados, com metas internas e acompanhamento dos resultados. Foi uma escolha estratégica e ambiental”, explica Júlia. A decisão também visa fortalecer a imagem da empresa junto ao produtor rural e contribuir com a agenda de sustentabilidade.
Pontos de entrega voluntária e economia local
Na prática, o programa funciona com pontos de entrega voluntária instalados em revendas parceiras da MIG Plus. As lojas ficam distribuídas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso do Sul, e recebem embalagens que antes poderiam acabar no lixo comum ou descartadas de forma inadequada no meio ambiente.
Após a entrega, as embalagens são recolhidas por associações e cooperativas de catadores que operam nos próprios municípios onde o material foi entregue. Essa dinâmica evita o transporte para longas distâncias e fomenta a economia da reciclagem local, beneficiando famílias que vivem da coleta seletiva.
“Essas embalagens não voltam para a sede da MIG Plus. Nossa ideia é justamente incentivar a circularidade local e fortalecer a cadeia de reciclagem onde ela acontece”, afirma Júlia.
Resultados do primeiro ano e planos de expansão
Ao longo de 2024, foram coletadas cerca de 14,5 toneladas de embalagens plásticas, um número que representa 3,4% do total distribuído pela empresa no mercado. Apesar de parecer um índice modesto, Júlia destaca que o resultado superou expectativas, especialmente por se tratar de um projeto piloto, sem metas obrigatórias no início.
“Nosso volume médio mensal por revenda passou de 140 quilos de embalagens. Isso mostra que, mesmo começando pequeno, conseguimos estruturar um processo que já gera impacto e tem grande potencial de crescimento”, afirma.
Com base nos bons resultados, a empresa estabeleceu metas internas para os próximos anos. O foco agora é ampliar o número de pontos de coleta, alcançar mais estados e melhorar a comunicação com os produtores rurais sobre a importância do descarte correto e da devolução das embalagens.