Produção de alimentos

Estudo da Embrapa revela quanto o Brasil pode ampliar sua produção sem abrir novas áreas

Embrapa Territorial identificou cerca de 30 milhões de hectares que poderiam ser convertidos para uso agrícola

Recuperação de pastagens degradadas exige tempo e investimentos - Foto: Arquivo/Canal Rural
Recuperação de pastagens degradadas exige tempo e investimentos - Foto: Arquivo/Canal Rural

O Brasil tem potencial para aumentar sua área destinada ao cultivo em até 30 milhões de hectares sem desmatar florestas ou descumprir compromissos ambientais. É o que mostra um levantamento da Embrapa Territorial, que analisou cenários e mapeamentos para identificar regiões com capacidade de uso agrícola. O estudo indica que a expansão pode ser feita, principalmente, por meio da recuperação de pastagens degradadas, sem comprometer áreas de preservação.

Quem explica os detalhes é Rafael Mingoti analista da Embrapa Territorial. Segundo ele, o objetivo foi entender onde o país pode crescer de forma sustentável:

“A partir do cruzamento de informações sobre pastagens degradadas, aptidão agrícola e condições climáticas, identificamos cerca de 30 milhões de hectares que poderiam ser convertidos para uso agrícola mais intenso, seja para grãos, frutas ou outras culturas”, afirma Mingoti.


Pastagens degradadas: a chave para crescer sem desmatar

O estudo utilizou técnicas de geoprocessamento para mapear áreas atualmente subutilizadas. As regiões com pastagens em avançado estado de degradação foram cruzadas com dados de aptidão agrícola e potencial produtivo. O resultado mostra que há espaço para ampliar a produção sem precisar avançar sobre áreas de floresta nativa.

Além disso, os pesquisadores reforçam que todas as análises respeitaram integralmente os compromissos ambientais já assumidos pelo Brasil e pelos produtores rurais, como os previstos no Código Florestal e em acordos internacionais de preservação.


Produtividade: outro caminho para aumentar a produção

O levantamento também mostra que não é preciso depender apenas da expansão de área para produzir mais alimentos. A elevação da produtividade pode ter um impacto imediato e significativo.

Segundo Mingoti, há culturas com grande potencial de ganho sem necessidade de abrir novas áreas. “No caso do trigo, por exemplo, há regiões do Brasil onde seria possível aumentar a produção em até 40% apenas com tecnologia, que os produtores já conhecem e utilizam”, explica.

A soja é outro exemplo: em várias regiões, a produtividade atual está pela metade do potencial. Isso significa que, com práticas mais avançadas e uso eficiente de insumos, o Brasil poderia ampliar sua oferta de grãos mesmo mantendo a área cultivada.


Custo e tempo para recuperar áreas degradadas

A recuperação de pastagens exige investimento, e a Embrapa estima um custo médio de R$ 5 mil por hectare. O valor, no entanto, pode variar bastante, dependendo do nível de degradação e das técnicas utilizadas.

O prazo para retorno também muda conforme a situação da área. Em pastagens extremamente degradadas, o processo pode levar anos. Já em casos mais simples, alguns meses de intervenção são suficientes para devolver a terra à plena capacidade produtiva.


Financiamento e incentivos para o produtor rural

A pesquisa da Embrapa também chama atenção para a necessidade de linhas de crédito específicas para apoiar o produtor rural nesse processo. A recuperação de áreas exige recursos, e o acesso ao financiamento ainda é um dos grandes desafios.

Segundo Mingoti, já existem incentivos disponíveis, mas ainda há espaço para ampliar políticas públicas que estimulem o uso sustentável da terra. Com mais investimentos, seria possível acelerar a conversão de pastagens degradadas e aumentar a produção de alimentos de forma eficiente.


Fertilizantes e logística: gargalos a serem superados

Para viabilizar a expansão da produção, outro desafio importante está na logística dos insumos agrícolas, especialmente os fertilizantes. O transporte até as propriedades muitas vezes é caro e demorado, encarecendo o custo final para o produtor.

Mingoti explica que alguns agricultores aproveitam oportunidades de frete de retorno, o que ajuda a reduzir os gastos. No entanto, o grande problema está no escoamento da produção, que enfrenta gargalos logísticos antigos.

Para apoiar os produtores, a Embrapa Territorial disponibiliza o Portal Macrologística Agropecuária, que mapeia as principais rotas de escoamento da safra e aponta obras prioritárias para melhorar o transporte de insumos e produtos agrícolas.


Brasil como protagonista na segurança alimentar

Com o aumento da população mundial, a demanda por alimentos tende a crescer, e o Brasil tem papel estratégico nesse cenário. O levantamento da Embrapa mostra que o país pode ampliar sua produção sem comprometer o meio ambiente, conciliando crescimento econômico com sustentabilidade.

A combinação de recuperação de áreas degradadas, ganhos de produtividade e investimentos em infraestrutura pode colocar o Brasil em posição ainda mais relevante no mercado global de alimentos.

“O produtor brasileiro tem tecnologia, conhecimento e condições para produzir mais sem desmatar. O caminho é unir recuperação de áreas, eficiência produtiva e respeito ao meio ambiente”, reforça Mingoti.

Marcius Ariel
Repórter do Planeta Campo, do Canal Rural. Produz conteúdo multiplataforma sobre sustentabilidade, com trabalhos realizados nos seis biomas do Brasil.