
A inauguração da primeira usina de etanol de trigo no Brasil, em Santiago (RS), representa um marco para a diversificação da matriz de biocombustíveis no país. O empreendimento aposta no uso de resíduos e subprodutos do cereal, que muitas vezes seriam descartados, para produzir energia renovável.
Em entrevista ao Planeta Campo, Amanda Souza, líder de aplicação da área de Processamento de Grãos da IFF na América Latina, destacou que o projeto reforça a importância da economia circular e pode contribuir para reduzir os custos energéticos em regiões onde o etanol chega a ser mais caro que a gasolina. Confira!
Iniciativa pioneira em biocombustíveis
Segundo Amanda, a usina já está pronta para operar e aguarda apenas licenças para iniciar oficialmente suas atividades. O projeto é conduzido pela CB Bioenergia e tem potencial para transformar o cenário do Rio Grande do Sul, um estado que ainda depende fortemente da importação de combustíveis.
Ela explica que, até agora, a produção nacional de etanol estava concentrada em duas regiões: no Sudeste, a partir da cana-de-açúcar, e no Centro-Oeste, com o milho. “Trazer o trigo para a matriz energética é estratégico. O Rio Grande do Sul ganha autonomia e sustentabilidade ao utilizar um grão que já faz parte da sua economia”, ressaltou.
Experiência internacional e potencial brasileiro
O etanol de trigo já é amplamente utilizado em países da Europa. Em 2023, o continente produziu cerca de 6,5 bilhões de litros de etanol, dos quais 25% tiveram origem no trigo. Além do grão, entram no processo subprodutos da agricultura e lotes de qualidade inferior que não servem para a indústria de alimentos.
“A experiência europeia mostra que o trigo pode ser uma fonte eficaz e sustentável de energia. Esse modelo reforça a necessidade de políticas públicas que incentivem matérias-primas regionais, gerando segurança energética e fortalecendo a economia circular”, destacou Amanda.
Sustentabilidade e aproveitamento total
Uma das principais vantagens do projeto é que ele não concorre com a produção de alimentos. O etanol será produzido a partir de resíduos agrícolas e subprodutos pouco valorizados no mercado. Além disso, todo o processo busca o aproveitamento integral da cadeia.
Durante a fermentação, o CO₂ gerado pode ser utilizado pela indústria de alimentos. O resíduo sólido da produção é destinado à ração animal e o resíduo líquido, rico em nutrientes, pode ser aplicado como adubo agrícola. “Estamos falando de um circuito fechado, onde nada é desperdiçado”, explicou Amanda.
Futuro do etanol de trigo no país
A expectativa é que a usina entre em operação nos próximos meses, consolidando o Brasil como um novo polo de produção de etanol a partir do trigo. Para a especialista, quanto mais alternativas de biocombustíveis forem incorporadas, maior será a segurança energética do país.
“Essa é uma credencial de sustentabilidade muito forte. O trigo vem para somar, trazendo inovação e reforçando o compromisso do setor com a energia limpa”, concluiu Amanda Souza.