Pecuária

Fazenda se destaca na pecuária sustentável com gestão de dados e meta carbono zero até 2030

São Clemente participa do programa Fazenda Nota 10 e aumenta lucro por hectare de R$ 146 para mais de R$ 850

Fazenda São Clemente está localizada em São José dos Campos, no vale do Paraíba, São Paulo - Foto: Renato Medeiros
Fazenda São Clemente está localizada em São José dos Campos, no vale do Paraíba, São Paulo - Foto: Renato Medeiros

Produzir carne de qualidade com responsabilidade ambiental. Esse é um dos pilares da Fazenda São Clemente, localizada em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

Adquirida pela família Marcondes César em 2001, a propriedade se tornou uma referência em pecuária de corte, unindo tecnologia, gestão de dados e práticas sustentáveis para alcançar resultados expressivos.

O começo foi bastante desafiador pois a área havia sido explorada por arrendatários e apresentava pastagens degradadas. “Tivemos um trabalho muito grande, não seria rápida a evolução da propriedade pela necessidade de formar pastos e recuperar tudo”, lembra o pecuarista Paulo Henrique Marcondes César.

Hoje, a realidade é outra. Sob a gestão do filho Daniel Marcondes César, desde o início de 2022, a São Clemente integra um grupo de três propriedades da família no interior paulista. Juntas, somam 2.200 hectares e cerca de 3.600 cabeças de gado, operando em sistema completo — cria, recria e engorda.

O foco principal está na produção de carne premium e no melhoramento genético do gado Nelore, com uso de cruzamento industrial com animais da raça Angus para agregar ainda mais qualidade e padronização ao rebanho.


Gestão de dados para transformar resultados

Ao assumir a propriedade, Daniel que atuava no setor financeiro, trouxe uma visão empresarial, baseada no uso intensivo de tecnologia. Todos os animais são monitorados com brincos eletrônicos e cada dado é registrado: nascimento, vacinação, ganho de peso e até produtividade por área.

“Já tive empresas, já mexi com a bolsa de valores, mas nunca tinha olhado os números e os animais do jeito que a gente olha quando cuida de uma fazenda (..) A primeira coisa que pensamos foi: vamos transformar esses animais em números, colocar brincos eletrônicos e implementar sistema de controle”, explica Daniel.

Essa mudança ganhou força com a adesão ao programa Fazenda Nota 10, considerado o maior de gestão e capacitação da pecuária de corte no Brasil. A iniciativa trabalha pilares como gestão produtiva, financeira, sustentabilidade e bem-estar animal. Recentemente, incorporou também a mensuração de emissões de gases de efeito estufa, alinhando as fazendas participantes às exigências globais de produção sustentável.

Todos os meses, a equipe da São Clemente envia seus dados para o Inttegra, sistema online do Instituto de Métricas Agropecuárias. São mais de 300 indicadores que funcionam como um verdadeiro “hemograma da produção”. A partir deles, é possível medir desde o ganho médio de peso por animal até o lucro por arroba e o retorno financeiro por hectare.

“Quando olhamos os relatórios, sabemos exatamente onde investir mais, onde cortar gastos e onde podemos melhorar. Esses números são essenciais para manter a fazenda no rumo certo”, reforça Daniel.


Investimento inteligente e eficiência produtiva

A gestão baseada em dados trouxe impactos diretos na estrutura de produção. Antes, cerca de 70% dos investimentos iam para o cocho e apenas 30% para a pastagem. Com a análise detalhada dos indicadores, a São Clemente inverteu a lógica e passou a priorizar a formação e recuperação de pastos.

O resultado da reorganização foi surpreendente. Segundo Lucas Astolfi, gerente agropecuário, hoje, para cada R$ 1 investido em pastagem, o retorno chega a R$ 4. Além de reduzir custos, a estratégia aumentou a produtividade por hectare e diminuiu o custo da arroba produzida. “Não existe aplicação no mundo que devolva quatro vezes o que você investe. Foi o Inttegra que nos mostrou isso”, conta.

Essa eficiência colocou a São Clemente entre as 30% fazendas mais rentáveis do programa na safra 2023/24. Desde o início de sua participação, em 2018, o lucro líquido por hectare saltou de R$ 146 para mais de R$ 850.

“Com o Inttegra, a fazenda consegue saber o ganho médio de peso, a produção por hectare, o custo da arroba, o lucro e o retorno por hectare. A pecuária precisa monetizar dois ativos: terra e rebanho. Por isso, esses números devem ser monitorados mês a mês para entender onde investir mais ou menos e onde há falhas na gestão”, explica Rodrigo Gennari, consultor do programa Fazenda Nota 10.


Sustentabilidade como meta estratégica

A São Clemente também aposta em práticas para reduzir o impacto ambiental da produção. A fazenda já trabalha com metas para se tornar carbono zero até 2030. Entre as ações, destacam-se:

  • Rotação e recuperação de pastagens, reduzindo o tempo do ciclo produtivo dos animais;
  • Produção de bois jovens, abatidos com 16 meses e 21 arrobas, acelerando o giro e diminuindo emissões;
  • Parcerias para geração de energia limpa, como a instalação de placas solares no confinamento;
  • Aproveitamento de resíduos da construção civil na correção de solo e na manutenção de estradas internas.

Pecuária do futuro

Combinando gestão de dados, genética de ponta e práticas regenerativas, a Fazenda São Clemente representa o modelo de pecuária que cresce no Brasil: eficiente, sustentável e conectada às novas demandas do mercado.

“Melhorando a pastagem, diminuímos o tempo do animal do nascimento até o prato de quem consome. Hoje, produzimos animais com 16 meses e 21 arrobas (..) Esse ciclo mais rápido traz mais sustentabilidade”, conclui Daniel.

Marcius Ariel
Repórter do Planeta Campo, do Canal Rural. Produz conteúdo multiplataforma sobre sustentabilidade, com trabalhos realizados nos seis biomas do Brasil.