
Produzir carne de qualidade com responsabilidade ambiental. Esse é um dos pilares da Fazenda São Clemente, localizada em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.
Adquirida pela família Marcondes César em 2001, a propriedade se tornou uma referência em pecuária de corte, unindo tecnologia, gestão de dados e práticas sustentáveis para alcançar resultados expressivos.
O começo foi bastante desafiador pois a área havia sido explorada por arrendatários e apresentava pastagens degradadas. “Tivemos um trabalho muito grande, não seria rápida a evolução da propriedade pela necessidade de formar pastos e recuperar tudo”, lembra o pecuarista Paulo Henrique Marcondes César.
Hoje, a realidade é outra. Sob a gestão do filho Daniel Marcondes César, desde o início de 2022, a São Clemente integra um grupo de três propriedades da família no interior paulista. Juntas, somam 2.200 hectares e cerca de 3.600 cabeças de gado, operando em sistema completo — cria, recria e engorda.
O foco principal está na produção de carne premium e no melhoramento genético do gado Nelore, com uso de cruzamento industrial com animais da raça Angus para agregar ainda mais qualidade e padronização ao rebanho.
Gestão de dados para transformar resultados
Ao assumir a propriedade, Daniel que atuava no setor financeiro, trouxe uma visão empresarial, baseada no uso intensivo de tecnologia. Todos os animais são monitorados com brincos eletrônicos e cada dado é registrado: nascimento, vacinação, ganho de peso e até produtividade por área.
“Já tive empresas, já mexi com a bolsa de valores, mas nunca tinha olhado os números e os animais do jeito que a gente olha quando cuida de uma fazenda (..) A primeira coisa que pensamos foi: vamos transformar esses animais em números, colocar brincos eletrônicos e implementar sistema de controle”, explica Daniel.
Essa mudança ganhou força com a adesão ao programa Fazenda Nota 10, considerado o maior de gestão e capacitação da pecuária de corte no Brasil. A iniciativa trabalha pilares como gestão produtiva, financeira, sustentabilidade e bem-estar animal. Recentemente, incorporou também a mensuração de emissões de gases de efeito estufa, alinhando as fazendas participantes às exigências globais de produção sustentável.
Todos os meses, a equipe da São Clemente envia seus dados para o Inttegra, sistema online do Instituto de Métricas Agropecuárias. São mais de 300 indicadores que funcionam como um verdadeiro “hemograma da produção”. A partir deles, é possível medir desde o ganho médio de peso por animal até o lucro por arroba e o retorno financeiro por hectare.
“Quando olhamos os relatórios, sabemos exatamente onde investir mais, onde cortar gastos e onde podemos melhorar. Esses números são essenciais para manter a fazenda no rumo certo”, reforça Daniel.
Investimento inteligente e eficiência produtiva
A gestão baseada em dados trouxe impactos diretos na estrutura de produção. Antes, cerca de 70% dos investimentos iam para o cocho e apenas 30% para a pastagem. Com a análise detalhada dos indicadores, a São Clemente inverteu a lógica e passou a priorizar a formação e recuperação de pastos.
O resultado da reorganização foi surpreendente. Segundo Lucas Astolfi, gerente agropecuário, hoje, para cada R$ 1 investido em pastagem, o retorno chega a R$ 4. Além de reduzir custos, a estratégia aumentou a produtividade por hectare e diminuiu o custo da arroba produzida. “Não existe aplicação no mundo que devolva quatro vezes o que você investe. Foi o Inttegra que nos mostrou isso”, conta.
Essa eficiência colocou a São Clemente entre as 30% fazendas mais rentáveis do programa na safra 2023/24. Desde o início de sua participação, em 2018, o lucro líquido por hectare saltou de R$ 146 para mais de R$ 850.
“Com o Inttegra, a fazenda consegue saber o ganho médio de peso, a produção por hectare, o custo da arroba, o lucro e o retorno por hectare. A pecuária precisa monetizar dois ativos: terra e rebanho. Por isso, esses números devem ser monitorados mês a mês para entender onde investir mais ou menos e onde há falhas na gestão”, explica Rodrigo Gennari, consultor do programa Fazenda Nota 10.
Sustentabilidade como meta estratégica
A São Clemente também aposta em práticas para reduzir o impacto ambiental da produção. A fazenda já trabalha com metas para se tornar carbono zero até 2030. Entre as ações, destacam-se:
- Rotação e recuperação de pastagens, reduzindo o tempo do ciclo produtivo dos animais;
- Produção de bois jovens, abatidos com 16 meses e 21 arrobas, acelerando o giro e diminuindo emissões;
- Parcerias para geração de energia limpa, como a instalação de placas solares no confinamento;
- Aproveitamento de resíduos da construção civil na correção de solo e na manutenção de estradas internas.
Pecuária do futuro
Combinando gestão de dados, genética de ponta e práticas regenerativas, a Fazenda São Clemente representa o modelo de pecuária que cresce no Brasil: eficiente, sustentável e conectada às novas demandas do mercado.
“Melhorando a pastagem, diminuímos o tempo do animal do nascimento até o prato de quem consome. Hoje, produzimos animais com 16 meses e 21 arrobas (..) Esse ciclo mais rápido traz mais sustentabilidade”, conclui Daniel.