SERÁ QUE É LEGAL?

Financiamento climático e comércio verde aquecem pré-COP 30 na Alemanha

Reunião preparatória da COP 30 em Bonn destaca disputas sobre financiamento climático, mercado de carbono e barreiras comerciais ambientais.

Financiamento climático e comércio verde aquecem pré-COP 30 na Alemanha

A reunião preparatória da COP 30, realizada em Bonn, na Alemanha, trouxe à tona temas sensíveis da agenda climática global. No quadro Será que é Legal?, o comentarista Leonardo Munhoz destacou os principais pontos discutidos pelas delegações, com destaque para o financiamento climático, os planos de adaptação, o mercado de carbono e as medidas comerciais ambientais.

Uma das principais pautas da reunião foi o debate sobre a promessa antiga dos países desenvolvidos de aportar US$ 100 bilhões por ano para ações climáticas nos países em desenvolvimento. Agora, representantes desses países estão pressionando por um aumento expressivo, sugerindo aportes de até US$ 1,3 trilhão por ano.


Países pedem mais, mas entregas continuam abaixo do prometido

Apesar das demandas crescentes, Munhoz relembra que a meta de US$ 100 bilhões nunca foi integralmente cumprida, mesmo após mais de uma década. Ou seja, a confiança na entrega de novos valores é baixa. A experiência recente da COP 16 de biodiversidade, que também tentou elevar os aportes, terminou sem consenso e precisou ser retomada em outro momento, mostrando a dificuldade histórica dessas negociações.

Outro tópico importante debatido em Bonn foi a implementação de indicadores para os planos nacionais de adaptação climática, que podem ou não se vincular ao Global Stocktake, o mecanismo de monitoramento das metas climáticas dos países.


Crédito de carbono e comércio internacional no centro das atenções

No campo do mercado global de carbono, o foco ficou no Artigo 6.2 do Acordo de Paris, que trata da negociação de créditos entre países com base nas suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Segundo Munhoz, ainda faltam critérios claros sobre os chamados ITMOs (Internationally Transferred Mitigation Outcomes), o que gera incertezas e dificulta a padronização internacional dessas transações.

Já no comércio internacional, houve uma tentativa — ainda frustrada — de inserir na agenda oficial da COP a discussão sobre medidas restritivas de cunho ambiental, como a taxa de carbono na fronteira (CBAM), proposta pela União Europeia. Países em desenvolvimento tentaram incluir o tema, mas foram barrados por argumentos de que o assunto deve ser tratado exclusivamente na Organização Mundial do Comércio (OMC).


União de agendas: clima e comércio cada vez mais interligados

Mesmo com a resistência formal, Munhoz avalia que a tentativa de barrar a inclusão do CBAM na agenda climática das Nações Unidas só reforça a inevitável convergência entre as pautas ambiental e comercial. A pressão internacional por critérios sustentáveis no comércio global está ganhando força, e isso impacta diretamente o agronegócio brasileiro, que depende de mercados externos.

O comentarista também alerta para o fato de que, apesar da tentativa de separação formal dos temas, a interligação entre emissões, comércio e compromissos climáticos é uma tendência irreversível. Essa movimentação pode levar a exigências mais rigorosas sobre rastreabilidade, desmatamento e pegada de carbono nos produtos exportados.


Caminho até Belém: negociações ganham peso político

A partir das conclusões da reunião em Bonn, as propostas e recomendações seguem agora para a COP 30, marcada para acontecer em Belém do Pará no final de 2025. Munhoz ressalta que o evento no Brasil será decisivo para consolidar avanços ou revelar impasses. Temas como financiamento climático, regras do mercado de carbono e comércio verde estarão no centro das discussões.

O setor agropecuário deve acompanhar de perto essas definições, já que as decisões tomadas na COP influenciam diretamente a regulação de mercados, as exigências para exportação e o acesso a financiamentos internacionais ligados à sustentabilidade.

Sair da versão mobile