Grupo estuda como promover sequestro de carbono por meio da restauração de biomas
A restauração de ecossistemas é apontada como uma boa alternativa para sequestrar carbono e mitigar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Descobrir a forma mais eficiente de alcançar esse objetivo é a meta de um projeto conduzido no Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) da Universidade de […]
A restauração de ecossistemas é apontada como uma boa alternativa para sequestrar carbono e mitigar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Descobrir a forma mais eficiente de alcançar esse objetivo é a meta de um projeto conduzido no Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) da Universidade de São Paulo (USP).
“Não existe uma única receita para restaurar um ecossistema. Nosso intuito é entender como funcionam as diferentes formas para sequestrar carbono e identificar os componentes de custos desses processos”, conta o engenheiro agrônomo Pedro Brancalion, coordenador do projeto intitulado “Restauração de vegetação nativa para sequestro de carbono – Restore C”.
O RCGI é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica (Poli-USP).
O primeiro passo do projeto é investigar o sequestro de carbono a partir de dois biomas brasileiros altamente diversificados: o Cerrado e a Mata Atlântica. “O acúmulo de carbono varia entre os tipos de ecossistema. Na Mata Atlântica, tem-se grande quantidade de carbono na superfície porque há profusão de madeira das árvores. Essa situação é diferente no Cerrado, onde há um número menor de árvores e a maior parte do carbono fica estocada embaixo da terra”, explica Brancalion.
Para entender quais conjuntos de espécies, arranjos de plantio ou de regeneração são capazes de tornar o processo de sequestro de carbono mais eficiente, o projeto instalará torres de fluxo na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga, no interior de São Paulo. Isso para checar a situação no contexto da Mata Atlântica.
Já no caso do Cerrado, o local escolhido é a Chapada dos Veadeiros, em Goiás. “Vamos trabalhar com o que há de mais inovador e robusto em termos de metodologia”, diz o pesquisador. “A torre de fluxo é um equipamento importado e extremamente sofisticado capaz de mensurar o que é fixado e liberado de carbono para a atmosfera. Entretanto, ela nunca havia sido utilizada em áreas de restauração de ecossistemas. Nosso projeto é pioneiro no mundo e deve gerar dados inéditos.”
A investigação, prevista para durar cinco anos, reúne uma equipe transdisciplinar composta por nove cientistas de instituições de pesquisa situadas no Brasil, na França e na Inglaterra. “Ao longo desse tempo, vamos investigar outras regiões nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás para cobrir variações presentes nos biomas, a exemplo de solo e clima”, informa Brancalion. “Além do trabalho de campo, vamos utilizar sensoriamento remoto e imagens de satélite. O projeto também tem um forte componente de modelagem: a partir da comparação de algumas áreas pesquisadas, é possível criar um modelo matemático para estimar o potencial de sequestro de carbono em outras áreas.”
A meta final é produzir um atlas digital, de livre acesso, que mapeie esses locais voltados para restauração de carbono. Nele estarão reunidos dados como o potencial de determinada área, os custos de restauração e a previsão de riscos para a perda de estocagem de carbono, que acontece em casos de acidentes naturais ou provocados pela ação do homem, a exemplo da seca e dos incêndios. “O atlas pode ser uma grande ferramenta de apoio na tomada de decisão para quem deseja investir no sequestro de carbono por meio do reflorestamento”, diz o pesquisador.
De acordo com Brancalion, um elemento importante nessa tomada de decisão é calcular as relações entre custo e efetividade. “É pensar não de forma absoluta, mas sim na quantidade de carbono sequestrado por unidade de investimento. Vamos supor que ao longo de dez anos uma empresa possa obter por meio de um projeto de restauração 100 toneladas de carbono ao custo de R$ 10 mil por hectare. Outra opção seria sequestrar 50 toneladas a um custo de R$ 2 mil por hectare. Nesse caso, vale mais a pena investir em várias áreas com o perfil da segunda alternativa e, graças à soma delas, conseguir sequestrar mais carbono com o mesmo investimento exigido pela primeira opção. O mapa ajudará a localizar quais são as áreas mais indicadas para determinado projeto.”
Nesse cálculo é preciso levar em conta uma série de variáveis em nome da melhor escolha de investimento. “Se o investidor já possui a terra, seu custo de implementação será plantar mudas e cuidar da manutenção da área. Mas há também o custo de oportunidade de uso da terra, que é o valor pago a terceiros para se usar determinada área para restauração. Por exemplo, se um proprietário rural lucra R$ 400 por hectare/ano com seu pasto, dificilmente vai ceder essa área por um valor menor do que esse. Com o mapa podemos calcular o custo total de sequestro de carbono ao cruzar os custos de oportunidade com os custos de implantação.”
Fonte: FAPESP