Incentivo e garantia à sustentabilidade no agro
Associações, cooperativas e integradoras fortalecem as cadeias produtivas e disseminam boas práticas
Sustentabilidade no Agro
As associações, cooperativas e integradoras são modelos de negócios muito presentes no agronegócio nacional, que ajudam a fortalecer o setor em diversas frentes. Uma delas é a difusão de informações e tecnologias que incentivam a sustentabilidade nas mais diversas cadeias produtivas.
“O modelo de integração é um case de sucesso no Brasil invejado por muitos países do mundo”, afirmou José Antônio Ribas, que é diretor executivo de sustentabilidade da Seara, durante o terceiro dia do evento Agropecuária do Futuro, realizado pelo Planeta Campo.
De acordo com Ribas, diversos são os motivos para que esse modelo de negócios seja tão bem sucedido.
“O sistema de integração ele não tem só o benefício de proteger o produtor das intempéries de mercado, `ah, subiu a soja, o milho, o preço do mercado de aves ou suínos caiu´, não é só essa a virtude do sistema de integração. O sistema de integração dá acesso a melhores mercados porque dá ao consumidor uma segurança na rastreabilidade, por estar protegido pelo sistema de uma grande empresa, que preza por sua marca, que preza pela qualidade do seu produto, que coloca muita ciência dentro do seu modelo de produção e com essa ciência consegue produzir num custo competitivo, na qualidade desejada pelo cliente e consegue fazer com que o que há de melhor de tecnologia chegue rapidamente nas mãos do produtor”, explicou.
José Antônio acredita que, atualmente, os produtos da suinocultura e avicultura brasileira são exportados para diversos mercados internacionais graças ao modelo de integração.
“[Esse modelo permitiu que] a gente desenvolvesse tanto a suinocultura e a avicultura, conseguindo colocar os produtos brasileiros em mais de 150 países de maneira competitiva, com muita qualidade e com o que há de mais moderno hoje, que é a sustentabilidade”.
Sustentabilidade na cadeia produtiva
As boas práticas ambientais também são um dos pilares da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). “Nós temos rastreabilidade e sustentabilidade através do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR)”, afirmou Júlio Cézar Busato, presidente da entidade.
A produção nacional de algodão teve um grande salto de reconhecimento e produtividade nas últimas décadas. E Júlio contou como esse processo começou.
“As associações estaduais coordenadas pela Abrapa, essas associações primeiro conseguiram tornar o algodão rentável, porque se não tiver a parte econômica não adianta nada, não tem nem a partida. Então nós, que éramos o 2º maior importador de algodão em 1997, hoje somos o 2º maior exportador de algodão mundial e o 4º maior produtor. E queremos mais e podemos fazer mais”, afirmou.
Programa Algodão Brasileiro Responsável
O programa Algodão Brasileiro Responsável começou há 10 anos com o objetivo de garantir o respeito ao meio ambiente e ao Código Florestal no processo produtivo, além de incentivar o desenvolvimento social e econômico dos produtores.
Para conquistar o selo ABR, que é auditado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e outras entidades, é necessário cumprir 178 itens de verificação. Atualmente, 85% do algodão produzido no país possui o Selo Algodão Brasileiro Responsável.
“Nós buscamos conquistar mercado e valorizar mais a turma do algodão brasileiro, nós estamos indo lá fora e dizendo: nós temos o algodão em quantidade, somos o 2º maior exportador do mundo, nós temos qualidade, temos rastreabilidade e nós temos sustentabilidade, através do programa Algodão Brasileiro Responsável, que é o programa mais completo a nível mundial. Por que? Porque para o produtor ter o selo ABR, ele tem que cumprir com a parte ambiental, que é seguir 100% o Código Florestal Brasileiro. E como só o Brasil tem um Código Florestal, nós temos o programa mais completo a nível mundial em termos de sustentabilidade”, defendeu Busato.
Além do programa ABR, a Abrapa lançou em 2016 o movimento Sou de Algodão, que leva informação aos consumidores sobre como e por quem o algodão brasileiro é produzido. Além disso, o projeto incentiva o consumo responsável na moda.
Todas essas iniciativas resultaram em um terceiro programa
“Nós lançamos o primeiro programa de rastreabilidade ponta a ponta a nível mundial, que se chama “Eu Sou ABR”. Como nós já tínhamos a rastreabilidade, que se iniciou há 17 anos, nós tínhamos o ABR, que se iniciou há 10 anos, nós tínhamos o Sou de Algodão, que se iniciou há 6 anos, nós juntamos tudo isso e fizemos um ABR das usinas de beneficiamento e aí nós partimos pra organizar a cadeia como um todo e organizamos.
Organizamos as fiações com as suas certificações, organizamos as malharias com as suas certificações, organizamos quem costura roupa com a sua certificação, até a ponta e fizemos uma parceria com a Reserva e a Renner.
Hoje a pessoa chega lá na loja da Reserva, vai ler o QR Code da etiqueta no seu telefone e vai passar uma historinha assim: `essa semente foi plantada numa fazenda lá em Mato Grosso, da família tal´, se a família permitir vai aparecer foto e tudo, `foi beneficiada na algodoeira tal, aí foi feito o fio lá em Santa Catarina, que também tem suas certificações, foi feita a malha lá em Minas Gerais e foi costurado em São Paulo e hoje está aqui e se você vestir essa camisa você vai ser parte dessa história´.
Tudo rastreado, tudo certificado, tudo através do blockchain que é pra realmente não ter dúvida”, detalhou Júlio Busato.
O projeto Eu Sou ABR já tem 900 marcas parceiras e deve chegar a 1.200 até o fim do ano. “Essas lojas vão tirar o algodão do fundo das lojas, trazer para a vitrine e vai trazer transparência, rastreabilidade e sustentabilidade de ponta a ponta, que é o que o mercado quer hoje”, concluiu Busato.
Confira o painel com representantes de diferentes entidades que promovem a sustentabilidade no agro no terceiro dia do evento Agropecuária do Futuro:
Importância da certificação
Para Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, o programa ABR exemplifica como a certificação reconhece e valoriza todos os elos da cadeia produtiva.
“A certificação é um lugar que a gente chega, mas pra chegar nós temos que fazer várias mudanças , vários ajustes, vários investimentos, vários processos que precisam ser reconhecidos pelos consumidores, clientes, sociedade, investidores. Ou seja, esse processo de reconhecimento, que nesse momento, economicamente, ele não aparece e precisa aparecer, ele é reputacional, ele é de segurança, do ponto de vista `eu faço algo que está nas condições sociais, ambientais, de transparência e de gestão adequadas para esse processo e, portanto, eu estou aqui oferecendo um produto que tem alguém dizendo que eu estou fazendo bem, não sou eu mesmo que estou alto declarando isso´”, disse Caio.
Já Antônio Ribas falou sobre como a agricultura e pecuária brasileiras contribuem com a inclusão social no país. “Eu costumo dizer que o maior programa de desenvolvimento social do Brasil se chama agro. Por que quem leva o desenvolvimento do Brasil para o interior, quem desenvolve o Brasil no interior, longe das capitais ou longe do litoral brasileiro? Quem faz isso é o agro, quem faz isso é o nosso produtor”.
Contribuições do setor para a preservação do meio ambiente
O diretor executivo de sustentabilidade da Seara também ressaltou as contribuições do setor para a preservação do meio ambiente.
“Hoje o Brasil tem o maior financiamento ambiental do mundo. Nós temos 66% do nosso território preservado, grande parte dessa preservação está dentro das propriedades produtivas do nosso produtor. Ele financia o meio ambiente no planeta porque já tem essa responsabilidade. A gente não pode pegar às exceções, aqueles casos pontuais e fazer disso um retrato do nosso produtor, porque não é representativo do nosso produtor”.
Quanto à relevância das certificações na cadeia produtiva, Ribas acredita que os agricultores e pecuaristas já estão se conscientizando sobre a importância desses mecanismos para além das bonificações.
“Cada vez mais o produtor está entendendo também que isso em algum momento pode vir a ser um prêmio, pode vir a ser um seguro, mas esse é o ingresso pro jogo de quem quer participar do mercado global. Talvez ele não vai conseguir receber um prêmio, mas talvez se não tiver, ele vai ficar com os mercados de pior precificação ou, no mínimo, vai ficar fora do mercado”, concluiu.