Lei Antidesmatamento, bioeconomia e fundos climáticos: as discussões do G20 que impactam o agro

Durante o encontro do G20, o Brasil destacou a necessidade de desburocratizar o acesso aos fundos climáticos e apresentou propostas de bioeconomia para aumentar a resiliência da produção rural e promover práticas sustentáveis.

Durante a última reunião do G20, o Brasil se posicionou de forma contundente ao defender a reforma dos fundos climáticos e ambientais, ressaltando a necessidade de desburocratizar o acesso aos recursos destinados aos países em desenvolvimento. Segundo Guilherme Bastos Filho, coordenador da FGV Agro, essas mudanças são essenciais para garantir a adaptação rural às mudanças climáticas e para promover a resiliência da produção agrícola frente a eventos climáticos extremos, como os incêndios e inundações que afetaram o Brasil.

O relatório apresentado pelo grupo de trabalho de Finanças Sustentáveis ​​do G20 incluiu recomendações para facilitar o uso desses fundos, especialmente para economias emergentes que enfrentam grandes desafios de adaptação climática. “Esses recursos são fundamentais para os países em desenvolvimento, onde os impactos das mudanças climáticas são mais severos”, afirmou Bastos, destacando a importância dessa reforma para o Brasil.

A bioeconomia como chave para a sustentabilidade global

Outro ponto de destaque foi a inclusão da bioeconomia nas discussões do G20, marcando uma conquista histórica para o Brasil e o mundo. Pela primeira vez, o tema foi pensado de forma integrada entre as maiores economias do mundo, promovendo o desenvolvimento de políticas harmonizadas entre os países. A bioeconomia, que visa a utilização sustentável dos recursos biológicos, foi considerada uma oportunidade crucial para unir o crescimento econômico e a preservação ambiental.

Guilherme Bastos explicou que o Brasil se destaca globalmente pelo uso de práticas avançadas nesse campo, como a biotecnologia e a fixação biológica de nitrogênio, que elimina as emissões de gases de efeito estufa e aumenta a resiliência das atividades. Ele também importa a importância da agricultura regenerativa, que melhora a qualidade do solo e contribui para a captura de carbono. “A agricultura tropical, como a do Brasil, pode ser uma solução para a adaptação climática e para a produção de baixo carbono”, afirmou.

Biocombustíveis ganham força no G20

Um dos grandes avanços para o Brasil no G20 foi a inclusão dos biocombustíveis como parte da bioeconomia. Apesar das resistências de alguns países, principalmente da União Europeia, o Brasil declarou que é possível produzir biocombustíveis de maneira sustentável, sem competir com a produção de alimentos ou ampliar áreas de desmatamento.

Bastos destacou que o Brasil tem uma vantagem estratégica, pois é capaz de produzir três até safras anuais, o que elimina a necessidade de competição entre a produção de alimentos e biomassa para biocombustíveis. “O Brasil tem o potencial de ser um líder global na produção sustentável de biocombustíveis, com práticas agrícolas que promovem a sustentabilidade”, afirmou.

Desafios para a implementação da Lei Antidesmatamento

Outro tema apresentado foi o pedido do Brasil para o adiamento da Lei Antidesmatamento, que entrará em vigor em dezembro de 2024. A proposta brasileira visa ganhar mais tempo para que o país possa se adequar às novas critérios, especialmente no que se refere à validação dos cadastros ambientais rurais e à regularização fundiária. Bastos explicou que o processo de adaptação ainda é lento, e que uma transição suave é necessária para que os produtores possam se adequar às novas normas.

“O Brasil precisa de mais tempo para atender às exigências da nova legislação. A integração entre regularização fundiária e ambiental é complexa e precisamos avançar gradualmente”, concluiu Bastos.