Cargill usará cacau em sistemas agroflorestais para recuperar terras degradadas
A iniciativa está acontecendo no Mato Grosso, e utilizará principalmente mudas de cacau por já estar adaptado ao clima da região e ao ecossistema amazônico
Uma nova parceria entre a Cargill e a Belterra deve movimentar regiões produtivas no estado do Mato Grosso pelos próximos anos.
Na parceria divulgada essa semana, as duas empresas querem incentivar modelos de restauração produtiva, que se alinham com o compromisso da Cargill em restaurar 100 mil hectares de áreas alteradas nos próximos cinco anos.
O modelo agroflorestal também traz o benefício de melhorar a saúde do solo e conservar a biodiversidade local, dois importantes legados para o agronegócio brasileiro. A Belterra é especialista em sistemas agroflorestais (SAF), uma das principais atividades para se recuperar solos fragilizados.
O cacau é o cultivo escolhido neste projeto que vai permitir o plantio em regiões onde o solo foi destinado a um ou dois tipos de cultivos nas últimas safras.
“A Cargill acredita que a agricultura pode ser parte da solução e essa parceria com a Belterra é um exemplo de como estamos entregando suporte financeiro inovador para que os produtores invistam cada vez mais em agricultura regenerativa”, comenta Laerte Moraes, diretor-geral de Alimentos e Ingredientes da Cargill na América do Sul.
A iniciativa está acontecendo no Mato Grosso, com a chegada de quase um milhão de mudas de cacau e outras espécies florestais. A parceria firmada entre Cargill e Belterra contempla a compra do cacau produzido pelas fazendas onde a Belterra opera, uma operação barter (de troca de insumos por parte da produção) e a restauração de 1000 hectares do bioma amazônico.
A operação será realizada com financiamento de longo prazo concedido pela Cargill e pelo Banco Cargill, por meio de instrumentos que incluem CPR-Verdes (Cédulas de Produto Rural Verde) e CPR-F (Cédulas de Produto Rural Financeira).
Por que o cacau?
Natural da Amazônia, o cacau está totalmente adaptado ao clima da região e ao ecossistema amazônico, o que favorece sua produtividade e rentabilidade. Essa soma de práticas sustentáveis, rastreabilidade e relevância comercial fazem do cacau o carro-chefe de muitos Sistemas Agroflorestais: espécie nativa do bioma amazônico responsável por manter a umidade no solo da floresta e fertilizá-lo, além de protegê-lo e mitigar riscos de erosão.
Sistemas Agroflorestais com cacau possuem alta capacidade de estoque de carbono e, portanto, podem ser também uma importante estratégia para compensação da emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa).
Além disso, a lavoura cacaueira estabiliza economicamente os SAFs, produzindo sistemas mais resilientes, pois tem um mercado estruturado e ajuda o Brasil a enfrentar os desafios no abastecimento interno de cacau, já que ainda é preciso importar amêndoas para suprir nosso mercado.
O geógrafo Valmir Ortega, fundador da Belterra e especialista em agrofloresta, detalha o funcionamento da parceria:
“Nós estruturamos os sistemas agroflorestais para que sejam adaptáveis às demandas do mercado e alinhados aos interesses dos produtores. A capacidade de venda da produção é um fator crítico para o sucesso da expansão dos sistemas regenerativos, por isso nos envolvemos em todas as etapas: pesquisa, plantio, e desenvolvimento de cadeias”.
A expectativa é abastecer o mercado nacional, exportação, refinar a produção sustentável de amêndoas, promovendo a restauração em áreas degradas, além de estimular o consumo de derivados.