CONSERVAÇÃO DA ÁGUA

Manejo do solo protege lavoura e evita enchentes no Rio Grande do Sul

Após as enchentes de 2024, produtor de Passo Fundo mostra como o manejo do solo pode prevenir tragédias e garantir produtividade com sustentabilidade.

Manejo do solo protege lavoura e evita enchentes no Rio Grande do Sul

As enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 trouxeram à tona um velho debate: o manejo correto do solo é uma das principais ferramentas para prevenir desastres climáticos e garantir a sustentabilidade da produção agrícola. Em Passo Fundo, o produtor Evandro Martins virou referência nacional ao adaptar o sistema de plantio direto e transformar sua propriedade em um modelo de preservação ambiental e eficiência produtiva.

Evandro trabalha com práticas conservacionistas há mais de 15 anos, e foi reconhecido como produtor de água e agricultor conservacionista após vencer uma seleção estadual promovida pela Emater e pelo governo do Rio Grande do Sul. Sua propriedade foi eleita entre mais de 480 visitas técnicas por conta da gestão eficiente da água e do solo.

Terraços que seguram até 140 mm de chuva

Entre as principais soluções adotadas por Evandro está o uso de terraços agrícolas, construídos com base em um mapeamento hidrológico da fazenda. O produtor explicou que estudou os maiores volumes de chuva das últimas décadas e projetou os terraços para reter até 140 mm de água em dois dias, evitando que a água escoe rapidamente para os rios e cause alagamentos nas cidades.

Além disso, os plantios em contorno, com máquinas adaptadas para curvas de nível, ajudam a reduzir a erosão e melhorar a infiltração da água no solo. “Toda a água que caiu em nossas áreas ficou retida. Ela leva de três a cinco meses para chegar ao leito dos rios. Isso mostra que não contribuímos para as enchentes nas regiões mais baixas”, destaca Evandro.

Solo sempre coberto com plantas de serviço

Outra técnica aplicada na fazenda é o uso de plantas de cobertura no outono, também chamadas de plantas de serviço pela Embrapa. Essas espécies ocupam o solo no intervalo entre a colheita de verão e a safra de inverno, ajudando a conservar a umidade, evitar erosão e manter a fertilidade.

Com essa estratégia, a lavoura nunca fica descoberta, funcionando como uma casa protegida: “A cobertura de palhada é o telhado e os terraços são as paredes. A gente costuma dizer que é possível produzir com segurança, mesmo com variações climáticas intensas”, explica o produtor.

Prêmio e incentivo à replicação

O reconhecimento pelo trabalho veio com o prêmio estadual de conservação do solo. Evandro acredita que o exemplo pode ser replicado em outras regiões, especialmente com apoio da ciência e da extensão rural. Ele mantém parceria com a Embrapa Trigo, em Passo Fundo, para aperfeiçoar as técnicas.

Segundo ele, é necessário transformar boas práticas em política pública, para que mais produtores possam adotar o sistema. “Quanto mais premiados, mais a agricultura vai bem. O solo é nosso maior patrimônio, e precisamos cuidar dele com responsabilidade”, afirma.

Tecnologia no campo e superação de desafios

Evandro enfrentou desafios para adaptar a propriedade. Foi preciso investir em máquinas com plantio elétrico, compensação em curva e aplicação de insumos em taxas variáveis, tudo ajustado ao mapa hidrológico da fazenda. Com mais de 20 terraços implantados, a propriedade suportou 425 mm de chuva em um mês, com apenas um ponto de transbordo.

O sucesso na propriedade de Evandro mostra que soluções locais, pensadas com base na ciência e adaptadas ao clima, podem ser decisivas para proteger vidas, garantir produtividade e preservar o meio ambiente.

Sair da versão mobile