Consequências de eventos climáticos extremos são potencializados por falta de medidas governamentais

De acordo com o professor Pedro Luiz Côrtes do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), a humanidade irá conviver por tempo indeterminado com os eventos climáticos extremos, uma vez que não estão sendo tomadas providências necessárias

No Brasil, o final do ano de 2023, início de 2024, está, assim como em anos anteriores, sendo palco de tragédias climáticas que colocam a vida dos cidadãos em risco, em especial os mais vulneráveis. Enchentes, alagamentos e ondas de calor são alguns desses eventos extremos que estão impactando as cidades brasileiras e acendendo o alerta dos políticos.

No Destaque de Meio Ambiente da semana, o professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, discorre sobre as consequências das enchentes nas cidades do país neste verão.

Alertas para tragédias climáticas 

Clima

Foto: Flickr

De acordo com o especialista, a humanidade irá conviver por tempo indeterminado com esses eventos climáticos extremos, uma vez que não estão sendo tomadas providências necessárias.

“Basta ver o que aconteceu na última COP, onde eles tiveram um ótimo exercício de retórica, mas sem que metas precisas fossem compactuadas. Porque falou-se: ‘Vamos colocar um fim no uso dos combustíveis fósseis’, mas quando e de que maneira?”; ele afirma que, apesar da discussão, na prática não ocorrem medidas efetivas.

No âmbito da política local, o docente afirma que eventos estão se repetindo sem que ações apropriadas sejam executadas, ou seja, é a recorrência dos mesmos erros. Por exemplo, quando aconteceu a tragédia no Litoral Norte de São Paulo, o governo do Estado sinalizou para a adoção de um sistema de alertas japonês e, até o momento, nada foi feito.

“Poderia ser feita de maneira simples, que é a adoção de um sistema de envio de alertas por SMS para todos os usuários de celular que estivessem em uma determinada área”.

Côrtes garante que as telefonias celulares possuem condições para avisar sobre consequências de eventos climáticos extremos, pois não teria custo, bastaria a Defesa Civil enviar uma mensagem para todos os cidadãos, independentemente de estarem cadastrados ou não no atual sistema de alerta.

O especialista sinaliza para o final de semana do dia 20/1, no qual há previsão de um acumulado de chuvas superior a 200 milímetros na Baixada Santista, que é próximo do previsto para o mês inteiro de janeiro, isto é, em apenas três dias pode chover o que se esperava em um mês. Além disso, ele diz que no Litoral Norte, Vale do Paraíba e na região de Campinas também existe a previsão de chuvas extremas e a população deve estar em alerta.

“Na Baixada Fluminense, existe uma dificuldade de escoamento dessas águas pela proximidade com o litoral, então, quando há uma elevação da maré, o fluxo de água para escoamento das áreas alagadas fica prejudicado.” Ele compara essa situação ao que pode ocorrer na Baixada Santista, visto que possui os mesmos problemas.

Pedro Luiz Côrtes comenta que a imprensa é a única fonte que está tendo a iniciativa de avisar a população sobre esses riscos, no entanto, nem todos os indivíduos possuem acesso para receber essas informações. Segundo ele, caso houvesse a disseminação correta de alertas, as consequências drásticas para a população poderiam ser evitadas.

“Outra forma de ação, que não depende muito de recursos, seria os municípios identificarem quais são as áreas sujeitas a alagamentos e inundações.”

A partir disso, eles devem indicar rotas de fugas e, diante do ocorrido, o indivíduo já sabe para onde deve ir em busca de abrigo — em geral, são áreas públicas que possuem a estrutura necessária para acolher os desabrigados durante alguns dias. Essa medida, conforme o professor, irá evitar que pessoas sejam retiradas de suas casas quando a água já estiver praticamente na altura do teto ou que ocorram mortes, o que tem acontecido frequentemente.

Côrtes ressalta que nada tem sido feito para mitigar essa problemática.

“A gente continua adotando uma política reativa, nós, como sociedade, reagimos aos eventos ao invés de, minimamente, nos anteciparmos às suas consequências”. Portanto, sob seu ponto de vista, basta a Prefeitura estar atenta aos alertas do Instituto Nacional de Meteorologia, disponíveis gratuitamente para todos os indivíduos, avisar a população e sinalizar os pontos de acolhimento.

Prognósticos climáticos para o Brasil

El Niño

Foto: Agência Brasil

Em relação ao El Niño, o docente explica que seus efeitos devem ser encerrados entre o final do verão e o início do outono e, logo após, as previsões apontam para uma fase de neutralidade. Contudo, na metade do ano, La Niña deve começar a agir sobre o Sul do Brasil.

Segundo o especialista, esse fenômeno atingiu o Sul do país durante mais de dois anos, tendo seu fim no ano passado e, durante esse período, a região sofreu com uma estiagem severa.

“Os agricultores do Rio Grande do Sul passam por uma situação na qual eles saem de uma estiagem severa, entraram numa fase de enchentes, inundações e alagamentos e agora vão voltar para uma fase de seca”; isso ocorre devido às consequências das mudanças climáticas e do aquecimento dos oceanos, que estão amplificando os efeitos desses fenômenos naturais.

Já na Região Norte, o La Niña irá influir na volta de chuvas intensas, uma vez que o local sofreu com uma seca sem precedentes no ano passado.

“Os prognósticos climáticos já estão disponíveis e sinalizando qual é o comportamento do clima ao longo dos próximos meses até o final do ano. Basta que as Prefeituras e o poder público, dos diversos Estados e municípios, utilizem isso corretamente”, finaliza.

Por Jornal da USP