Mudanças Climáticas: Carlos Nobre alerta para os impactos irreversíveis e o papel do Brasil no cenário global

Em entrevista ao Planeta Campo, o climatologista Carlos Nobre explica o que é o aquecimento global, os riscos de ultrapassarmos 1,5°C e como o Brasil pode liderar a luta contra as mudanças climáticas.

O renomado climatologista Carlos Nobre fez um alerta contundente sobre os impactos das mudanças climáticas e o papel do Brasil na regulação do clima global. Segundo Nobre, a Terra já ultrapassou a marca crítica de 1,5°C de aquecimento, um marco que a ciência previu como um ponto de grande risco para a estabilidade climática e ecológica do planeta.

“O aquecimento global é o aumento da temperatura média da Terra, causado principalmente pela emissão de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O). Esses gases retêm o calor na atmosfera, intensificando o efeito estufa”, explicou Nobre. Ele ressaltou que 70% dessas emissões vêm da queima de combustíveis fósseis, enquanto a agropecuária, especialmente a pecuária, também contribui de forma significativa.

O Alerta das Metas do IPCC

Nobre destacou que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estabeleceu como meta limitar o aquecimento global a 1,5°C. No entanto, ele apontou que já atingimos essa temperatura, com alguns meses registrando picos de até 1,6°C. “A previsão era de que esse valor fosse alcançado permanentemente por volta de 2033 a 2035, mas estamos muito mais próximos disso do que imaginávamos”, afirmou.

O climatologista alertou para os riscos irreversíveis que o planeta enfrenta ao ultrapassar essa barreira. Entre eles, a perda de 90% dos recifes de corais com o aquecimento de 1,5°C e, caso a temperatura global chegue a 2°C, o desaparecimento de quase 100% desses ecossistemas, que são cruciais para a biodiversidade marinha.

O Papel do Brasil

Apesar de o Brasil não estar entre os três maiores emissores globais de gases de efeito estufa, o país desempenha um papel essencial na regulação climática devido à vasta extensão de suas florestas, como a Amazônia. “Nos últimos anos, o Brasil foi o quinto maior emissor global, mas com a recente queda no desmatamento, estamos agora na sexta posição”, disse Nobre.

A redução no desmatamento da Amazônia em 2023 e 2024 contribuiu para uma diminuição significativa das emissões brasileiras. Ainda assim, Nobre destacou que as queimadas no Pantanal e no Cerrado continuam a ser um desafio ambiental urgente. O professor acredita que o Brasil tem potencial para ser o primeiro grande emissor global a zerar suas emissões, destacando a importância de projetos de restauração florestal e a expansão das energias renováveis no país.

O Futuro e a COP 30

Com a COP 30 marcada para acontecer em Belém, Nobre vê uma oportunidade única para o Brasil assumir a liderança global no combate às mudanças climáticas. “O Brasil pode ser o primeiro grande emissor a zerar suas emissões, principalmente ao reduzir o desmatamento e expandir suas fontes de energia limpa, como a solar e a eólica”, declarou.

Carlos fez também um chamado para que o Brasil aproveite essa chance de liderar globalmente, não apenas na preservação de seus recursos naturais, mas também na promoção de uma economia sustentável e na redução das emissões globais.