Mudanças Climáticas e Agricultura: Alface Resistente ao Calor é Destaque em Novo Estudo da Embrapa

A Embrapa realiza estudos para desenvolver variedades de alface que suportem altas temperaturas, visando mitigar os impactos das mudanças climáticas na agricultura.

Os impactos das mudanças climáticas sobre a agricultura são cada vez mais evidentes. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura média do planeta aumentou mais de 1 grau Celsius em menos de dez anos. Este aquecimento tem alterado a disponibilidade de água, a ocorrência de chuvas, a duração e intensidade das secas, e a umidade do solo. Diante desse cenário, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveu um estudo inovador que visa adaptar cultivares de alface a temperaturas mais altas.

Carlos Pacheco, pesquisador da Embrapa Hortaliças, explica que o estudo conduzido em parceria com o Dr. Fábio Suinaga, envolve o desenvolvimento de variedades de alface que tolerem melhor as altas temperaturas projetadas para cenários de mudanças climáticas. Utilizando uma câmara de crescimento vegetal, onde é possível simular temperaturas futuras, os pesquisadores conseguiram identificar cultivares que demonstraram bom desempenho em condições de calor extremo, chegando a 30 graus Celsius.

Durante o estudo, que durou 45 dias, diversas cultivares de alface disponíveis no mercado foram avaliadas. Apenas três delas apresentaram boa produtividade nesse cenário desafiador. Essas cultivares possuem um ciclo de crescimento precoce e foram desenvolvidas para regiões já quentes do Brasil, como o Norte, mostrando uma tolerância genética ao calor.

A pesquisa é crucial para garantir a segurança alimentar em um futuro com mudanças climáticas. A comercialização de frutas e hortaliças movimentou cerca de 60 bilhões de reais no Brasil no último ano, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Manter a produtividade das hortaliças, mesmo em condições adversas, é essencial para evitar prejuízos aos produtores rurais e controlar a inflação dos preços dos alimentos.

As mudanças climáticas não afetam apenas as temperaturas, mas também causam chuvas intensas e secas prolongadas, além do surgimento de novas pragas e doenças. Esses fatores têm o potencial de reduzir a disponibilidade de alimentos no mercado, pressionando os preços para cima e dificultando o acesso da população, especialmente a mais pobre, a alimentos nutritivos.

Carlos Pacheco destaca que, embora os resultados iniciais sejam promissores, ainda há um longo caminho a percorrer para adaptar completamente as cultivares de alface às novas condições climáticas. O próximo passo da pesquisa é entender melhor os mecanismos genéticos que conferem essa tolerância ao calor e desenvolver novas variedades ainda mais resistentes.

Além da alface, a Embrapa pretende expandir esses estudos para outras hortaliças, visando garantir uma produção agrícola sustentável e resiliente às mudanças climáticas. A qualidade do alface também foi avaliada, observando-se queima de bordas, necrose e clorose em algumas cultivares, fenômenos que indicam estresse térmico. Entretanto, as cultivares mais resistentes mostraram uma menor ocorrência desses problemas.

A continuidade dessas pesquisas é vital para o futuro da agricultura. Adotar medidas de adaptação agora é essencial para mitigar os impactos das mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar e nutricional da população brasileira. A Embrapa continua a trabalhar intensamente para desenvolver soluções inovadoras que garantam a sustentabilidade da agricultura.