Mudanças climáticas podem podem causar fome em Madagascar
Considerado o maior arquipélago do continente africano, pode ser o primeiro lugar do mundo a sofrer com a fome causada por mudanças climáticas
A Ilha de Madagascar, localizada no sul da África, pode ser o primeiro lugar do mundo a passar por períodos de fome devido às mudanças climáticas. Geralmente, a temporada de secas vai de maio a outubro, e a de chuvas começa em novembro. Mas este ciclo está alterado.
Segundo o porta-voz do Programa Mundial de Alimentos da ONU, Alice Rahmoun, essa mudança já impacta pequenos agricultores. “É claro que há menos chuva, então quando acontecem as primeiras chuvas, eles ficam com esperança e plantam algumas sementes. Mas um pouquinho de chuva não é uma temporada de chuvas apropriada.”
Ainda de acordo com a representante do PMA, os impactos da mudança climática são cada vez mais fortes. “As colheitas falham constantemente, e as pessoas não têm o que colher nem nada para renovar seus estoques de alimentos.”
Sobrevivência
A representante da ONU explicou que o impacto da seca varia de lugar para lugar. “Enquanto algumas comunidades não tem uma temporada apropriada de chuvas há 3 anos, a situação é bem pior em zonas a 100 km de distância”. Alice lembra de ter visto vilarejos com campos completamente secos e tomateiros totalmente amarelados ou até mesmo marrons devido à falta de água.
“Em algumas áreas as pessoas até conseguem plantar alguma coisa, mas não é nada fácil, então estão tentando plantar batata doce. Mas em outras regiões, absolutamente nada está crescendo agora, então as pessoas estão comendo gafanhotos para sobreviver, comendo frutas e folhas de cactos”, afirma Rahmoun.
Alice relatou também que as pessoas já começaram a desenvolver mecanismos para sobreviver. “Estão vendendo o próprio gado para ter dinheiro para comprar comida, sendo que deveriam poder obter comida da sua própria produção agrícola. Terrenos e até casas estão sendo vendidas. Há famílias que tiraram seus filhos das escolas, numa estratégia para conseguir atividades rentáveis onde as crianças possam estar envolvidas”, explica a especialista do PMA.
COP-26
A partir do dia 31 de outubro, os líderes mundiais estarão reunidos em Glasgow, na Escócia, para a COP-26, a Conferência da ONU sobre Mudança Climática. Segundo o secretário-geral António Guterres, esta poderá ser a última chance de “mudar a corrente” para alinhar o planeta.
A representante do PMA explica que a agência pretende usar a conferência para mudar o foco de resposta à crise para gestão de riscos. “A COP-26 é uma oportunidade de pedir aos governos e aos doadores para priorizarem o financiamento relacionado a programas de adaptação climática, e para ajudar os países a controlarem melhor os riscos, até mesmo em Madagascar, pois se nada for feito, a fome aumentará de forma exponencial nos próximos anos devido à mudança climática. E não apenas em Madagascar, mas em outros países”, afirma Alice Rahmoun.
Com informações da ONU News