
Uma nova cultivar de feijão-guandu acaba de ser lançada pela Embrapa com potencial de transformar a pecuária e a agricultura no Brasil. A BRS Guatã é uma variedade estratégica por unir tolerância à seca, melhoria da saúde do solo, controle biológico de nematoides e alta aptidão para a alimentação animal. Desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste, a novidade chega ao mercado em um momento crucial de adaptação às mudanças climáticas.
Segundo o pesquisador Frederico de Pina Matta, responsável pelo desenvolvimento da cultivar, o uso de leguminosas como o guandu já é, por si só, uma escolha inteligente para sistemas produtivos sustentáveis. “É uma planta rústica, que aceita certos desaforos, como períodos de seca. Em um cenário de incertezas climáticas, ela oferece segurança”, explica.
A BRS Guatã pode ser utilizada em diversas frentes. Além de recuperar pastagens degradadas e fornecer forragem de qualidade, ela contribui para o equilíbrio biológico do solo. Seu uso contínuo promove a fixação de nitrogênio, melhora a estrutura física do solo e ainda ajuda na ciclagem de nutrientes, tornando o ambiente mais produtivo e resiliente.
Vantagens frente a outras opções de cultivo
Quando comparada com outras plantas de cobertura, a BRS Guatã se destaca por oferecer múltiplas funções de maneira simultânea. Crotalária, por exemplo, é eficiente no controle de nematoides, mas não serve como alimentação animal. Já o amendoim forrageiro, embora nutritivo, depende de propagação por mudas e não resiste à seca, ficando indisponível no período crítico.
A Guatã também supera outras cultivares de guandu por seu benefício adicional no controle de nematoides. “Ela é indicada especialmente para produtores que enfrentam problemas com essas pragas que atacam culturas como soja, cana-de-açúcar, milho, algodão e hortaliças”, afirma Frederico.
Ao ser cultivada de forma solteira, ou seja, sem o consórcio com outras espécies, a BRS Guatã age como armadilha para os nematoides. Eles não conseguem se alimentar da planta e, portanto, não se reproduzem, reduzindo significativamente a população dessas pragas no solo.
Recuperação de pastagens e melhoria do solo
A recuperação de pastagens degradadas é outro destaque da cultivar. Segundo dados da Embrapa, o Brasil tem cerca de 100 milhões de hectares de pastagens, dos quais mais da metade apresentam algum grau de degradação. A BRS Guatã atua diretamente na regeneração dessas áreas, desde que a degradação ainda esteja em estágio inicial ou intermediário.
“Se a pastagem ainda tem alguma forragem, mas está perdendo força, o guandu entra para recuperar. Ele traz matéria orgânica, fixa nitrogênio e, com suas raízes profundas, ajuda na biodiscompactação do solo. Isso melhora a porosidade, a retenção de água e diminui a erosão”, detalha o pesquisador.
Com essas características, a BRS Guatã se apresenta como uma aliada fundamental na integração lavoura-pecuária, promovendo sistemas produtivos mais eficientes e ambientalmente corretos. A introdução da leguminosa no sistema não apenas melhora a produtividade, mas também reduz a necessidade de insumos químicos, contribuindo com a sustentabilidade.