
Um novo bioinseticida desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo, em parceria com a Condeagro e o Instituto Mato-grossense do Agronegócio (IMA-MT), promete revolucionar o controle da lagarta-do-cartucho, considerada uma das piores pragas agrícolas do Brasil. A solução apresentou mais de 85% de eficácia em testes de campo realizados em municípios do Mato Grosso.
A praga, que atinge mais de 200 culturas agrícolas, como milho, soja, arroz e algodão, pode causar sérios prejuízos à produtividade das lavouras. O novo produto biológico, baseado em baculovírus, atua de forma específica e seletiva no combate às lagartas, representando uma alternativa eficaz e sustentável aos defensivos químicos convencionais.
Produzido com tecnologia nacional
O bioinseticida utiliza o isolado SeMNPV-6, um vírus específico para o controle da lagarta-do-cartucho, selecionado a partir do banco de baculovírus da Embrapa. “Trabalhamos há mais de 35 anos com baculovírus, o que nos permitiu desenvolver esse produto altamente eficiente com ação por ingestão e aplicação estratégica”, explicou o pesquisador Fernando Hercos Valicente, da Embrapa Milho e Sorgo.
A produção em larga escala está sendo realizada em uma nova biofábrica localizada em Sorriso (MT), a 25 km de Lucas do Rio Verde. A estrutura já está operando e segue rigorosos protocolos de isolamento e controle de qualidade, garantindo a pureza e a eficácia do produto final.
Aplicação estratégica aumenta a eficiência
Para garantir alta performance, o bioinseticida deve ser aplicado no momento certo, logo após a germinação da cultura, quando as lagartas ainda são pequenas. “O baculovírus atua no intestino médio do inseto, onde o pH é mais elevado. Por isso, é essencial que a aplicação ocorra quando as lagartas têm menos de 1 centímetro”, destacou Valicente.
Além disso, o posicionamento correto da pulverização é decisivo, pois o inseto precisa ingerir o produto ao raspar as folhas da planta. O tempo de prateleira do bioinseticida é de até um ano, desde que armazenado em condições ideais.
Solução ambientalmente segura
O uso do bioinseticida também representa um importante avanço no controle biológico com menor impacto ambiental. Como o baculovírus já está presente na natureza, sua aplicação em escala não oferece riscos para rios, lençóis freáticos ou aplicadores. “Estamos devolvendo à natureza algo que já é dela, mas em quantidade controlada e eficaz”, ressaltou o pesquisador.
A solução é especialmente relevante para propriedades próximas a mananciais de água, pois evita a contaminação química comum nos métodos convencionais. “Nosso objetivo é garantir um produto final mais limpo para o consumidor, com menos ou nenhum resíduo químico nos alimentos”, reforçou.
Disponibilidade no mercado
Com a fábrica já em operação, a expectativa é que o novo bioinseticida esteja disponível para os produtores em breve. A expectativa é que sua adoção cresça rapidamente, impulsionada pelo aumento da demanda por biosoluções agrícolas e pela necessidade de controlar pragas resistentes a inseticidas tradicionais.
O produto representa um marco importante na integração entre ciência, tecnologia e sustentabilidade no campo, abrindo caminho para uma agricultura mais eficiente e alinhada às exigências do mercado e da sociedade.