
O estado do Pará está protagonizando uma mudança significativa na pecuária brasileira com a criação de um sistema de rastreabilidade individual bovina que integra informações sanitárias e ambientais dos animais. A iniciativa, chamada CRBIPA (Cadastro de Rastreabilidade da Pecuária Bovina do Pará), representa um avanço estratégico para atender às exigências de mercados internacionais e será uma das vitrines brasileiras na COP 30, que acontece em Belém no fim do ano.
A novidade foi analisada por Leonardo Munhoz no quadro Será que é Legal?, do programa Planeta Campo, que destacou a importância do novo modelo para o futuro da carne brasileira. Segundo Munhoz, o sistema é o primeiro no país a vincular, de forma oficial, dados de rastreabilidade animal ao histórico ambiental dos imóveis rurais, cruzando as informações com o CAR (Cadastro Ambiental Rural).
Rastreabilidade individual vai além da sanidade e mira sustentabilidade
Até hoje, o único documento obrigatório em todo o território nacional era a Guia de Trânsito Animal (GTA), que registra apenas os deslocamentos do rebanho. Embora o SISBOV exista como alternativa federal voluntária, e Santa Catarina mantenha um sistema próprio, o Pará se diferencia ao criar uma legislação própria que integra critérios ambientais à rastreabilidade.
“Esse é um passo ousado e inovador. A rastreabilidade individual permite saber por onde o boi passou desde o nascimento até o abate. Mas agora, com o cruzamento ambiental, o consumidor saberá também se a carne veio de área desmatada ou regular”, explicou Munhoz.
A adoção desse modelo visa atender especialmente à nova Lei de Desmatamento da União Europeia, que já exige comprovação de que produtos de origem florestal, como a carne bovina, não estejam associados a desmatamento ilegal.
Sistema CRBIPA será usado como vitrine do Brasil na COP 30
Na COP 28, o governo paraense se comprometeu a criar esse novo modelo de rastreabilidade e, agora, se prepara para apresentar os resultados durante a COP 30, da qual será sede. O estado, que recentemente foi declarado livre de febre aftosa sem vacinação, busca ampliar o acesso da sua carne a mercados mais exigentes, como Europa e Ásia, que ainda impõem barreiras por falta de garantias sanitárias e ambientais.
Com a implementação do CRBIPA, o Pará pode se tornar referência nacional em rastreabilidade bovina com responsabilidade socioambiental. No entanto, Munhoz alerta que ainda faltam regulamentações complementares para garantir o pleno funcionamento do sistema.
“Hoje, o decreto e as portarias tratam da padronização da brincagem e credenciamento de operadores. O grande desafio agora é consolidar o cruzamento de dados com o CAR e criar uma base de dados transparente e auditável”, observou.
Caminho para ampliar mercados e responder às novas exigências globais
A rastreabilidade ambientalmente integrada atende não apenas às exigências legais, mas também à pressão de consumidores e investidores por cadeias mais sustentáveis. Para o Pará, a aposta pode gerar ganhos em reputação, acesso a novos mercados e valorização da carne bovina com origem comprovadamente legal e sustentável.
Enquanto isso, o Brasil como um todo também pode se beneficiar do modelo, caso o sistema seja replicado em outros estados. “A COP 30 será uma vitrine para mostrar que o Brasil pode produzir carne com rastreabilidade e sustentabilidade. O Pará está saindo na frente”, concluiu Munhoz.