Pecuária intensiva de ponta a ponta garante sustentabilidade em GO

Fazenda de ciclo completo alia pastejo rotacionado com confinamento e abate animais aos 20 meses

Pecuária intensiva de ponta a ponta garante sustentabilidade em GO

Produzir com rentabilidade e produtividade também resulta em benefícios para o meio ambiente. Isso é o que o modelo intensivo de produção da Fazenda Paranã comprova na prática. Com a união do pastejo rotacionado e confinamento, a propriedade consegue encurtar o ciclo de produção e abater animais de até 20 meses, o que contribui tanto para a redução das emissões de metano quanto com o sequestro de carbono por meio das pastagens.

A fazenda trabalha com cria, recria e engorda e já começa a intensificar a produção desde o início do ciclo. “A gente faz o ciclo completo, então os bezerros ficam no pé das vacas até o momento do desmame. Após o desmame eles passam por um período de recria confinada e após esse período de recria confinada os animais vêm para esses módulos de rotacionado, onde acontece a recria nas águas. Aqui, logicamente, o foco principal é o pasto. Então a gente faz todo o sistema para que os animais aproveitem ao máximo as pastagens e existe uma suplementação que [a gente] passa aí proteico um grama, três gramas ou até um protéico-energético cinco gramas, que ajuda no desempenho do GMD [Ganho Médio Diário]. Essa conta é feita ano a ano buscando viabilidade financeira, logicamente, dentro do negócio”, explica Rogério Peres, diretor de pecuária da Nelore Paranã.

Outra técnica utilizada na propriedade é o manejo rotacionado. “São quatro piquetes e módulos de, mais ou menos, 40 hectares. Então são quatro piquetes de mais ou menos 10 ou 11 hectares. E na recria o que a gente busca, [o que] a gente coloca como métrica é buscar de 670 a 700 gramas de GMD por cabeça/dia. E a grande vantagem de utilizar esse sistema aqui é que, às vezes, falta informação na parte da pecuária e quando se trabalha com sistema intensivo, como esse, onde a gente estimula as plantas a se desenvolverem, no caso das gramíneas, nesse caso a gente está em um pasto de [capim] Mombaça, existe um sequestro de carbono, uma alta absorção de carbono para fotossíntese para produzir esse volume enorme de capim”, afirma Peres.

Confinamento

O manejo da Nelore Paranã se intensifica ainda mais na fase de engorda. Normalmente, no período da seca, em que a qualidade dos pastos diminui, os animais vão para um confinamento com capacidade para 15 mil cabeças, onde o monitoramento é constante.

“O principal fator que a gente faz no confinamento é a leitura de cocho, tanto na parte da manhã quanto a leitura noturna. E os principais indicadores que a gente busca são o rendimento de carcaça, o ganho de peso diário e a eficiência biológica. A nossa eficiência está em torno de 140, então isso influencia muito no bolso”, diz Leandro Aquino, que é gerente de confinamento da propriedade.

Ao monitorar a eficiência biológica dos bovinos é possível analisar se os custos com alimentação por arroba estão sendo otimizados, já que a nutrição do rebanho é levada muito a sério por lá. “A alimentação, associada com a genética e o bem-estar animal, corresponde, praticamente, a 70% dos custos de implantação de um sistema de criação de bovinos. Porque o que acontece hoje? A gente trabalha com alimentação pré-estabelecida, bem formuladas, dietas de acordo com a assistência que a gente precisa dar para gado, [com] a necessidade do rebanho. Então a gente precisa fornecer uma dieta adequada, com os nutrientes adequados, que a gente não consegue subir com as pastagens, a gente fornece através de suplementos minerais e protéicos”, detalha Vanderly Júnior, supervisor de produção da Nelore Paranã.

Intensificar a produção durante todo o ciclo, tanto no pasto quanto no confinamento, é bom não apenas para a produtividade e a rentabilidade, mas também para o meio ambiente. “O mais bacana desse projeto como um todo é que a gente busca encurtar o ciclo de produção e a gente abate um animal com 20, 21, 22 meses. Se a gente juntar bom manejo reprodutivo, genética, bom manejo de pasto e nutrição, nós conseguimos diminuir o tempo desse animal e isso é um benefício para o sistema como um todo. Então ter mais produtividade numa menor área e no menor tempo é o que nós buscamos. Por que? Porque a gente sabe que o mercado está cada vez mais exigente com uma carne de qualidade. Então a gente produz animais extremamente jovens, que são animais zero dentes ou dois dentes, quem acompanha o mercado de classificação dos frigoríficos sabe disso, e o nosso objetivo é justamente isso, é tentar, nesse sistema de ciclo completo, numa região que tem um clima relativamente desafiador, mostrar que é possível fazer e, principalmente, que é possível tendo rentabilidade financeira”, avalia Rogério Peres.

Confira a matéria completa:

Dicas para intensificar a produção

Antes de adotar uma nova tecnologia para intensificar a produção na fazenda é importante fazer um diagnóstico da área, como explica o engenheiro agrônomo José Renato Gonçalves. “O principal ponto do projeto é fazer um bom diagnóstico. Com esse diagnóstico a gente vai levantar, dentro da propriedade, quais são as áreas mais indicadas para adoção das mais variáveis tecnologias, a quantidade de área que nós vamos colocar e, principalmente, o nível e a intensidade que nós vamos trabalhar essas áreas. Então sem esse diagnóstico para conhecer a minha propriedade, conhecer a região onde eu estou inserido, conhecer o meu mercado de insumos e o mercado consumidor dos meus produtos ,se eu tomar alguma decisão ela pode ser uma decisão emocional e não racional e aí a possibilidade de a gente ter uma frustração na adoção da tecnologia é muito grande”.

Gonçalves também explica quais são os principais benefícios do manejo rotacionado. “A principal vantagem que a gente vê nesse processo de pastejo rotacionado é que nós conseguimos aumentar a eficiência de pastejo. Eficiência de pastejo é a quantidade de capim que os animais conseguem consumir em relação ao que foi produzido. Como no pastejo rotacionado eu faço o pastejo e depois descanso esse pasto para essa planta forrageira, para esse capim recuperar, eu posso fazer um pastejo mais intenso, ou seja, eu colho mais a forragem que foi produzida e quando aumenta a eficiência de pastejo eu consigo aumentar a lotação das minhas áreas e o aumento da lotação, através do aumento da produção e através do aumento da eficiência de pastejo, é um componente importante da produtividade. Eu consigo, dessa forma, melhorar a produtividade das minhas áreas. Então o grande impacto que nós vamos ter adotando o pastejo rotacionado é essa capacidade de aumentar a lotação e, consequentemente, a produtividade e, consequentemente, a lucratividade”.

Quanto ao confinamento, José Renato detalhou os motivos que o tornam uma ferramenta importante para driblar a baixa produção da forrageira no período seco. “Em todo o país, no Brasil quase como um todo, o pasto produz dentro de uma curva que a gente chama de estacionalidade de produção, onde eu tenho mais ou menos 70%, 80% da produção anual no período chuvoso e 20% a 30% da produção anual no período seco. Então os aspectos positivos, os impactos positivos de um bom manejo de pastagem na produtividade são muito visíveis no período chuvoso e quanto mais a gente aumenta a lotação, ou seja, o potencial produtivo desse pasto durante o período chuvoso, maior é a diferença entre a produção do período chuvoso e o período seco. Então propriedades extremamente intensificadas, onde eu uso com alta eficiência, com alto potencial produtivo as pastagens durante o período chuvoso, eu preciso me preparar, eu preciso adotar estratégias para suplementar esses animais ou complementar [no período seco]. E existem várias alternativas, mas em sistemas de alta produtividade, quase que obrigatoriamente, a gente tem que utilizar o confinamento para ajustar a oferta de alimentos durante o ano”.

Confira o programa Planeta Campo na íntegra com a participação de José Renato Gonçalves: