A indústria de biocombustíveis brasileira acaba de dar um grande passo rumo à sustentabilidade com a descoberta de uma enzima inovadora capaz de converter subprodutos do etanol de milho em hidrocarbonetos, compostos essenciais para a produção de combustíveis, incluindo o querosene de aviação. A pesquisa foi realizada por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que, com sua tecnologia pioneira, oferecem uma alternativa renovável ao uso de combustíveis fósseis.
Em uma conversa exclusiva com o Planeta Campo, Letícia Zanphorlin, pesquisadora do CNPEM, detalhou como essa inovação pode transformar a indústria de biocombustíveis e impactar positivamente o mercado de aviação no Brasil e no mundo.
A Jornada da Pesquisa
A pesquisa, iniciada em 2021, teve como objetivo principal explorar alternativas sustentáveis ao petróleo. O desafio era criar uma molécula similar ao hidrocarboneto presente no petróleo, para que pudesse ser utilizada tanto na indústria petroquímica quanto na aviação. Para isso, a equipe de cientistas do CNPEM identificou uma enzima que age como biocatalisador, convertendo ácidos graxos — presentes em subprodutos da produção de etanol de milho — em hidrocarbonetos.
“Essa enzima tem a capacidade de transformar o óleo, um subproduto da produção do etanol, em uma molécula que se assemelha ao querosene de aviação, possibilitando a criação de um bioquerosene. O grande diferencial é que, além de utilizar um resíduo da indústria do etanol, estamos criando um combustível renovável e sustentável”, explicou Letícia Zanphorlin.
Vantagens da Nova Tecnologia
A inovação apresenta várias vantagens em relação aos processos convencionais de produção de biocombustíveis. A enzima descoberta é extremamente eficiente, sendo capaz de trabalhar com diferentes tipos de ácidos graxos, o que amplia seu campo de aplicação. Além de ser uma alternativa viável para substituir o querosene de aviação, o hidrocarboneto produzido pode ser utilizado na indústria petroquímica, principalmente na fabricação de plásticos e outros polímeros derivados de hidrocarbonetos.
Esse uso duplo da tecnologia não só permite diversificar os mercados de aplicação, mas também contribui para a redução da dependência de recursos fósseis, incentivando a produção de produtos renováveis em setores diversos da economia.
Impactos no Mercado de Biocombustíveis Brasileiro
O Brasil, conhecido mundialmente pela sua produção de etanol, especialmente a partir da cana-de-açúcar, tem visto um crescimento notável na produção de etanol de milho, especialmente no Centro-Oeste. A pesquisa desenvolvida pelo CNPEM vem como uma grande oportunidade para agregar ainda mais valor a essa cadeia produtiva, utilizando um subproduto até então subutilizado, o óleo rico em ácidos graxos.
“Com a crescente produção de etanol de milho, muitos subprodutos, como o óleo de ácidos graxos, não tinham um destino final bem definido. Agora, com essa descoberta, podemos agregar valor a esse resíduo, criando uma molécula que pode ser transformada em bioquerosene ou mesmo em outros produtos como plásticos e materiais petroquímicos, o que abre uma nova gama de oportunidades para o mercado brasileiro”, afirmou Zanphorlin.
Esse avanço pode também impactar a geração de empregos e o fortalecimento de uma economia sustentável, alinhada com as tendências globais de redução de emissões de carbono. O Brasil, com seu vasto mercado de etanol e expertise na área de biocombustíveis, tem uma posição privilegiada para liderar essa revolução sustentável.
O Futuro da Aviação Sustentável
Com as crescentes preocupações ambientais, o setor de aviação tem sido pressionado a encontrar alternativas ao querosene, combustível tradicionalmente derivado do petróleo. O bioquerosene, obtido por meio da conversão de resíduos como os ácidos graxos do etanol, se apresenta como uma solução promissora para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e tornar a aviação mais sustentável.
Letícia Zanphorlin destacou que, embora a implementação dessa tecnologia em larga escala ainda seja um desafio, a pesquisa tem mostrado resultados animadores. “A tecnologia tem grande potencial, mas ainda estamos em fase de validação. Contudo, acreditamos que ela possa ser aplicada em breve de forma comercial, contribuindo para a transformação do setor de aviação em um futuro mais sustentável”, afirmou a pesquisadora.
Conclusão: O Papel do Brasil na Revolução dos Biocombustíveis
Com essa pesquisa, o Brasil não apenas se fortalece como líder na produção de etanol, mas também posiciona-se como protagonista na transição para fontes de energia renováveis. A inovação promovida pelo CNPEM traz uma solução estratégica, aproveitando ao máximo os subprodutos da produção de etanol de milho e abrindo novos horizontes para a indústria de biocombustíveis.
Essa tecnologia representa uma oportunidade única para o país, que pode expandir ainda mais sua participação no mercado global de biocombustíveis e ajudar a reduzir a dependência de combustíveis fósseis, gerando um impacto positivo tanto no meio ambiente quanto na economia.