Pesquisas internacionais sobre resistência antimicrobiana confirmam situação encontrada no Brasil
O uso em excesso e indiscriminado desse produto pode acelerar o desenvolvimento de bactérias multirresistentes nos animais e no meio ambiente.
O coordenador de Agropecuária Sustentável da Organização não-governamental Proteção Animal Mundial, Daniel Cruz, participou do programa Planeta Campo desta quarta-feira, 27, para explicar sobre uma pesquisa inédita conduzida no ano passado que confirmou a presença de genes que causam resistência a antibióticos (ARGs) no ambiente ao redor de granjas intensivas.
Segundo o especialista, os genes identificados causam resistência a medicamentos muito comuns utilizados para tratar importantes doenças infecciosas em pessoas. Para a organização, a solução é utilizar antibióticos em animais de produção de forma responsável, com o uso apenas terapêutico e banir o uso rotineiro de antibióticos.
“Essa pesquisa foi realizada nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e Tailândia. A mesma situação foi encontrada também no Brasil, em uma pesquisa similar conduzida pela organização e realizada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) nas cidades de Castro, Palotina e Toledo, no Paraná, no final de 2021. Para realizá-la, nós coletamos água solo e lodo em cursos de água próximo a granjas suínas. O resultado mostra uma grave presença de genes e resistência a antibióticos no ambiente”, explicou Cruz.
Estima-se que mais de 60% dos antibióticos produzidos mundialmente são utilizados em animais de criação. O uso em excesso e indiscriminado pode acelerar o desenvolvimento de bactérias multirresistentes nos animais e no meio ambiente. No Brasil, o material coletado próximo às granjas no Paraná mostrou uma presença especialmente grande de genes resistentes a antibióticos críticos para a saúde humana, como é o caso da cefalosporina, da ciprofloxacina e da penicilina.
Daniel reforça que a resistência antimicrobiana vem crescendo muito. “Sabemos desse problema global da resistência bacteriana e os dados apresentados em todas as pesquisas confirmam que se trata de um fenômeno mundial e que requer preocupação”, afirma.
Para o coordenador, a solução é desenvolver e implementar políticas e normas para empresas e governos. “Precisamos utilizar os antibióticos de forma responsável, uso apenas terapêutico e banir o uso rotineiro de antibióticos. A dependência do uso excessivo de antibióticos só cessa quando há transformação nos sistemas produtivos”, destaca.
Confira o programa na íntegra: