
A pirataria de sementes voltou a chamar a atenção do setor agropecuário. Um novo estudo da CropLife Brasil, em parceria com a Céleres Consultoria, revelou que o uso ilegal de sementes de soja já representa 11% do mercado nacional, com impactos diretos na produção, nos empregos e na arrecadação de impostos. Em estados como o Rio Grande do Sul, o índice chega a 28%.
A prática, segundo a diretora de biotecnologia e germoplasma da CropLife, Catharina Pires, compromete toda a cadeia produtiva. “Estamos falando de sementes que não têm origem legal, que não passaram por controle de qualidade e que geram prejuízos enormes ao agricultor e à indústria”, destaca. De acordo com o levantamento, os danos econômicos alcançam a cifra de R$ 10 bilhões por ano.
O estudo analisou apenas a cultura da soja, uma das mais relevantes do agronegócio brasileiro. Os números chamam a atenção por revelarem a dimensão do problema e os efeitos em cadeia. “Se esse percentual fosse revertido, poderíamos ter mais empregos, mais arrecadação e mais investimentos em pesquisa”, afirma Catharina.
Ainda segundo a executiva, a diferença entre semente pirateada e a semente legal precisa ficar clara. A semente pirata é comercializada sem registro ou autorização, enquanto a semente legal pode ser reutilizada pelo produtor, desde que siga a legislação vigente.
Perdas atingem indústria, campo e exportação
O levantamento também aponta que a pirataria de sementes reduz a geração de empregos. Segundo a CropLife, mais de 1.500 postos de trabalho deixam de ser criados a cada ano por conta dessa prática ilegal. Além disso, há uma perda estimada de R$ 93 milhões em impostos não arrecadados anualmente, o que impacta estados e municípios.
Outro ponto crítico é o desestímulo ao investimento em pesquisa e desenvolvimento genético. Com menor retorno para o setor formal de sementes, a cadeia perde cerca de R$ 200 milhões anuais que poderiam ser aplicados em novas tecnologias para o campo.
“Estamos perdendo capacidade de inovar. O agricultor deixa de ter acesso a cultivares mais produtivas, mais resistentes e adaptadas ao clima e ao solo brasileiros. É um ciclo negativo que começa na semente ilegal e termina em menor produtividade e risco para o meio ambiente”, alerta Catharina.
A soja brasileira, reconhecida mundialmente por sua qualidade, também pode ser prejudicada. O uso de sementes sem garantia pode comprometer a qualidade do grão exportado, colocando em risco mercados internacionais conquistados ao longo de décadas.
Comunicação e fiscalização são os principais caminhos
Para combater o problema, a CropLife aposta em comunicação direta com o produtor rural. Segundo Catharina, muitos agricultores não conhecem os riscos reais do uso de sementes piratas. A organização tem promovido campanhas que explicam os danos à lavoura, à rentabilidade e à reputação do setor.
Entre os principais riscos, estão a baixa germinação, a menor produtividade e a falta de uniformidade nas lavouras. “A semente pirata pode parecer mais barata, mas o prejuízo vem na colheita. A produtividade cai e o retorno esperado simplesmente não vem”, reforça a diretora.
Além da conscientização, a CropLife e outras entidades do setor têm exigido maior atuação do poder público. A demanda inclui fiscalização mais rigorosa nas propriedades e ações integradas entre os órgãos federais e estaduais. A ideia é aumentar a pressão contra o comércio ilegal antes mesmo que ele chegue ao campo.
Outra frente importante é a modernização da legislação sobre sementes. A entidade defende a revisão do marco regulatório, com foco em coibir brechas que ainda permitem a circulação de sementes não autorizadas e dificultam a atuação da fiscalização.