
A edição 2025 do Agrobalsas, no Maranhão, foi palco de uma revelação importante para a sustentabilidade da agropecuária brasileira. Durante o evento, o pesquisador João Carlos Sá, da Ohio State University, apresentou os resultados de um estudo de longo prazo sobre o impacto do plantio direto na estocagem de carbono no solo.
Os números surpreendem: sistemas bem manejados de plantio direto, com pouca revolvimento do solo, cobertura permanente e rotação de culturas, podem estocar até 90% do carbono no solo. Em comparação, sistemas agrícolas sem o uso do plantio direto registram estoques de apenas 35%.
Brasil lidera práticas sustentáveis com impacto global
A análise destaca a força do modelo conservacionista brasileiro, que se diferencia de outros países produtores de commodities, como os Estados Unidos e nações europeias.
“O produtor rural no Brasil não só protege suas Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais, como também adota práticas que aumentam a captura de carbono, como o plantio direto. Isso reafirma a sustentabilidade da agricultura brasileira perante o mundo”, afirmou Leonardo Munhoz, do quadro Será que é Legal?, exibido no Planeta Campo.
Com isso, o estudo contribui para reforçar a posição do Brasil nas discussões internacionais sobre clima e sustentabilidade, especialmente com a proximidade da COP 30, em Belém (PA).
Estocagem de carbono pode gerar novas fontes de renda
Além dos impactos ambientais, o estudo apresentado em Balsas também abre portas para possíveis recompensas financeiras aos produtores. O estoque de carbono no solo, proporcionado pelo plantio direto, pode ser considerado em projetos de crédito de carbono, principalmente no mercado voluntário, onde já existem metodologias reconhecidas — como a Verra VM0042.
No entanto, a baixa escala e o alto custo dos projetos dificultam o acesso para pequenos e médios produtores. Por isso, há expectativa de que o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) incorpore metodologias específicas para o plantio direto, o que poderia baratear os custos e ampliar a participação dos produtores.
PSA agrícola ainda precisa avançar no Brasil
Outra via debatida por especialistas é a inclusão do plantio direto no escopo do pagamento por serviços ambientais (PSA). Em países como Estados Unidos e nações da Europa, boas práticas agrícolas são recompensadas com subsídios públicos como parte das políticas climáticas.
No Brasil, porém, a Lei do PSA de 2021 ainda não prevê expressamente o pagamento por boas práticas agrícolas, como o plantio direto. Embora o SBCE indique essa possibilidade, não há regulamentação específica que permita o pagamento direto ao produtor.
“Seria possível criar PSAs privados, com empresas remunerando produtores que adotam práticas de impacto positivo comprovado. Mas, para isso, é necessário atualizar a legislação e reconhecer formalmente essas práticas como serviços ambientais”, ressaltou Munhoz.
Legado científico e oportunidades futuras
A pesquisa liderada por João Carlos Sá levou anos até ser concluída e reforça o papel da ciência como aliada do campo. O plantio direto, amplamente adotado pelos agricultores brasileiros, tem potencial de contribuir para metas climáticas globais, mas precisa ser valorizado e reconhecido em políticas públicas e instrumentos de mercado.
“É hora de o Brasil dar um passo além e transformar essa boa prática em oportunidade econômica para quem produz com responsabilidade”, concluiu Leonardo Munhoz.