Embrapa Meio Ambiente

Probióticos usados em frangos podem impulsionar a produção de hortaliças

Estudo com participação da Unesp mostra que microrganismos aplicados na avicultura também favorecem o desenvolvimento da alface e podem reduzir o uso de fertilizantes químicos.

Probióticos usados em frangos podem impulsionar a produção de hortaliças

Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, do Instituto Biológico de São Paulo e da Unesp Botucatu descobriram um novo uso promissor para os probióticos já aplicados na criação de frangos: estimular o crescimento de hortaliças, como a alface. A descoberta pode representar uma alternativa sustentável para reduzir o uso de fertilizantes químicos e fortalecer a saúde do solo.

Em entrevista ao Planeta Campo, Rafaela Carvalho Vargas, estudante de doutorado em Agronomia (Proteção de Plantas) pela Unesp FCA Botucatu, explicou como o estudo foi conduzido e quais os principais resultados. “O experimento foi feito com dois tipos de aplicação: na semeadura, com o probiótico misturado ao substrato, e após a germinação, por meio de aplicação semanal do produto”, detalha.


Resultados promissores para o campo

Os testes foram realizados ao longo de 30 dias e os resultados mostraram aumento no desenvolvimento da parte aérea e das raízes das plantas. Foram avaliadas variáveis como peso fresco e seco, altura da planta e comprimento das raízes, com destaque para a melhoria geral no crescimento da alface.

Segundo Rafaela, esse efeito acontece porque os microrganismos “estimulam a produção de fitormônios, que favorecem o desenvolvimento da planta”. Ainda não foram observados efeitos no controle de pragas ou doenças, mas a redução do uso de fertilizantes químicos já se mostrou um grande benefício ambiental.


Sustentabilidade e menor dependência de insumos

A pesquisa aponta vantagens diretas para a sustentabilidade. “Ao reduzir os fertilizantes químicos, diminuímos também a poluição do solo e da água. Além disso, favorecemos o equilíbrio da microbiota, promovendo maior estruturação do solo e melhor infiltração de água”, explica Rafaela.

Outro ponto importante é a possível redução da dependência de insumos caros, o que pode beneficiar diretamente pequenos produtores. “Com essa tecnologia, o agricultor não fica tão refém da oscilação do mercado de fertilizantes. É uma forma de ganhar mais autonomia no campo”, reforça.


Potencial para outras hortaliças

Apesar de os testes iniciais terem sido feitos apenas com alface, o potencial da técnica pode se estender a outras hortaliças. “Nada impede que a gente avalie em culturas como rúcula, beterraba e outras que estão na mesa do consumidor todos os dias”, comenta a doutoranda.

Por enquanto, o uso dos probióticos está liberado apenas para a avicultura, e a aplicação nas hortaliças segue em fase experimental. A aplicação pode ser feita tanto no substrato na fase de mudas quanto no campo, após o transplante, e até mesmo em sistemas de hidroponia.


Inovação com base científica

A iniciativa é um exemplo claro de como a ciência pode encontrar novos caminhos para promover a sustentabilidade na agricultura. Microrganismos já conhecidos por seu papel na sanidade animal agora se mostram úteis também no cultivo de hortaliças, gerando ganhos econômicos, ambientais e agronômicos.

“Manter a vida do solo é essencial. Esses microrganismos podem ajudar nisso, ao mesmo tempo em que reduzem a necessidade de insumos químicos, tornando a produção mais sustentável e acessível”, conclui Rafaela.