Produtores preservam árvores ameaçadas de extinção na Mata Atlântica

Palmeira juçara e cambuci estão entre as espécies conservadas no entorno do Parque das Neblinas

Produtores preservam árvores ameaçadas de extinção na Mata Atlântica

Na continuação da série de reportagens sobre a Mata Atlântica, que está sendo exibida pelo Planeta Campo nesta semana, acompanhamos o trabalho de produtores rurais do entorno do Parque das Neblinas para a preservação de espécies florestais ameaçadas de extinção, como a palmeira juçara e o cambuci.

Preservação da palmeira juçara

Em um esforço para recuperar diversas espécies de árvores que já estavam quase extintas na região, a Suzano e o Instituto Ecofuturo, que faz a gestão do Parque das Neblinas, desenvolveram um programa de oficinas de manejo com mais de 60 proprietários rurais da região, valorizando aqueles que mantêm a floresta em pé. Assim, as pessoas passaram a colher os frutos da palmeira juçara, tirando a polpa e jogando as sementes na mata, deixando para a fauna o papel de reproduzir a árvore.

“As oficinas de manejo aqui no parque vem acontecendo desde 2008. A princípio nós começamos com interesse na compra de frutos da palmeira juçara para fazer o plantio e dar continuidade ao plantio da juçara aqui dentro da área, mas a pesquisa nos trouxe algumas informações, principalmente em relação à polpa. Nós começamos a introduzir e conversar com esses proprietários, que a polpa da juçara poderia ser um elemento para complementar a renda desses proprietários. E aí a gente começou a olhar a floresta, valorizar a floresta em pé”, explicou Michele Martins, analista de sustentabilidade do Ecofuturo.

Neste cenário, há 10 anos a empreendedora Marília Murakani começou sua história de preservação com o Parque das Neblinas. “Essas oficinas incentivam os moradores do entorno do Parque a plantar mais palmeiras porque é uma palmeira que teve muita extração na região, e ainda tem, e ela estava ameaçada de extinção. E aí com os moradores da região aprendendo a como fazer o cultivo da palmeira e ainda usar os frutos, aí que a gente começou essa história com o parque”, conta Marília.

A palmeira juçara, também conhecida como açaí da mata atlântica, é uma espécie típica da região e fonte rica de alimento para cerca de 80 espécies da fauna, o que garante a dispersão da sua semente. “Diferente do açaí, é uma palmeira que não brota por Toceira. É uma palmeira que depende realmente de fruto para continuar sua espécie”, explica Mateus Frias Botelho, monitor do Parque das Neblinas.

Para preservar a espécie, o Parque vem os produtores rurais a não trabalhar apenas com a extração do palmito, mas também com os frutos da árvore. “Aqui a gente faz um outro trabalho também, que é mostrar para ele [o produtor] uma renda anual sem agredir a natureza, que é trabalhar com o fruto da palmeira. Se a gente notar, ela dá de três a quatro cachos por ano. Se ele também tira uma caixa de fruto, ele tira praticamente o que ele tira no pote do palmito, saindo o açaí da Mata Atlântica, com valor energético melhor do que o açaí, só que vem da palmeira juçaara”, conta Botelho.

Marília também ressalta as demais possibilidades da palmeira. “Hoje em dia a gente está mostrando o que dá para fazer com juçara, que é o suco, não só cortar palmeira para extrair o palmito e perder essa essa espécie tão valiosa para a gente, o juçara é o nosso açaí Paulista.”

Confira a terceira parte da série de reportagens sobre a Mata Atlântica na íntegra:

Preservação do Cambuci

O Cambuci também é uma espécie típica da Mata Atlântica e seu nome tem origem indígena em função do formato de seus frutos parecidos com os potes de cerâmica. Ele é rico em vitamina C, com propriedades antioxidantes e adstringentes que retardam o envelhecimento e fortalecem o sistema imunológico, além de combater o colesterol.

Além disso, o Cambuci também é responsável por alimentar muitos mamíferos na Mata Atlântica e também é fonte para a produção de diferentes produtos. “Hoje em dia, nós trabalhamos com os produtos mais principais. O principal é o Cambuci que a gente faz os derivados (…). A gente trabalha com o cortiço da cachaça, doce, biscoitos, sorvetes, tudo à base da fruta Cambuci, que é uma fruta também que está ameaçada de extinção”, detalha a empreendedora Marília Murakani.

Paulo Groke, que é engenheiro florestal e diretor do Ecofuturo, ressalta a relevância do trabalho realizado com a comunidade local. “É importante que você pense o Parque das Neblinas da porteira para fora, em como essas comunidades do entorno podem se integrar as estratégias de conservação e uma delas é você trazendo esses caçadores, esses extratores ilegais de palmito juçara, para dentro do Parque, atuando como monitores, atuando como guarda-parques, função importantíssima na atividade. É importante que em cada ação que você tenha, quer seja de projetos científico, quer seja a simples compra, que você direcione esse trabalho para que a comunidade possa participar diretamente e, dessa forma, cerca de 50% do recurso que o Parque das Neblinas movimenta, o recurso financeiro, voltam para a comunidade do entorno.

Transformação de área degradada em floresta preservada

Ao longo dos últimos 25 anos, a Suzano restaurou uma área degradada na atual reserva ambiental do Parque das Neblinas, gerido pelo Instituto Ecofuturo. O local atualmente é uma das maiores reservas privadas do bioma Mata Atlântica no país e serve, inclusive, como um grande “laboratório” para estratégias de restauração e conservação.

O Parque das Neblinas é reconhecido como posto avançado da reserva da biosfera da Mata Atlântica desde 2006. E há 1.265 espécies da fauna e da flora já registradas no local que fazem parte do programa Homem e Biosfera da Unesco. Quatro dessas espécies são novas para ciência e 24 possuem algum grau de ameaça.

Confira a última parte da série de reportagens sobre a Mata Atlântica na íntegra: