Projeto Algodão Sustentável gera inclusão no Cerrado Mineiro
O Projeto Algodão Sustentável gerou fartura a 46 famílias que antes estavam ameaçadas pela insegurança alimentar
O Projeto Algodão Sustentável gerou fartura a 46 famílias que antes estavam ameaçadas pela insegurança alimentar, agravada pela pandemia de Covid-19, no noroeste do Cerrado Mineiro.
A iniciativa do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) apoiou 18 comunidades de oito municípios na região de Arinos em parceria com a Copabase, Central Veredas e financiamento da Laudes Foundation.
Com o recurso financeiro e o suporte técnico do ISPN, as comunidades superaram a marca de cinco toneladas de algodão sustentável produzidas na safra de 2021, e comemoraram também a fartura dos consórcios alimentares, que garantiram prato cheio e rico em nutrientes, sem químicos.
De acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Brasil, mais de 116 milhões de pessoas se encontravam em situação de insegurança alimentar no ano de 2021, o que representa 55% da população brasileira.
Dessas, quase vinte milhões se encontravam em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passavam fome, conforme explica Jessica Pedreira, engenheira florestal, facilitadora e assessora técnica do ISPN.
“Esses índices se acentuam ainda mais quando olhamos para as regiões Norte e Nordeste do país, ou ainda para as populações rurais, como agricultores familiares, quilombolas, indígenas e ribeirinhos, que historicamente ocupam posição de situação de pobreza por exclusão do poder público”, destaca.
Boa colheita
A agricultora Andreia Frota, uma das beneficiadas pelo projeto, mostra a felicidade que é ter uma boa colheita de algodão, com fartura e diversidade no quintal.
“Só da gente se alimentar sem agrotóxicos, isso já é uma bênção. Na agricultura familiar, tendo assistência, a gente consegue produzir. Nossa terra é a nossa empresa”, compartilha.
Nascido na fazenda e contemplado com políticas de reforma agrária, o agricultor Gaspar Gonçalves também comemora o sucesso do projeto, vislumbrando um futuro melhor para a população do campo.
“Lembro quando entrei pela primeira vez na minha terra. Foi 22 setembro de 2001 a primeira noite que dormi na minha terra, onde resido até hoje e não pretendo sair”, conta. As comunidades relatam que, no mercado, compram apenas arroz e açúcar. A diversidade da alimentação vem majoritariamente dos próprios quintais.
A produção de algodão ainda fortaleceu a tradição cultural da tecelagem e da cantoria das fiandeiras, um costume que era mantido com a busca do algodão sem agrotóxico em outras regiões já que o produto com veneno intoxica e adoece as tecelãs.
Haroldo Mendes, agricultor do projeto, celebra esse resgate. “Há 40 anos, minha mãe tinha uma roda de fiar, mas passou um período que não tínhamos mais isso. Agora, com o algodão sustentável, pode aparecer novamente”, comenta com esperança.
Cultura e tradição
A fiandeira Diva Maria conta que aprendeu a tecer com sua mãe e que deseja que sua filha também possa continuar com a tradição, construindo um futuro bom através dessa arte centenária.
A filha, Karianny Gonçalves, é estudiosa, sabe da importância da escolarização, por isso não reclama de ir e voltar da cidade todos os dias. “Não tenho vontade de morar na cidade, aquilo não é vida. Daqui a 15 anos, me vejo formada em veterinária, atendendo todo mundo que me viu nascer e crescer aqui”, compartilha seu sonho.
“Como diz aquele ditado, se o campo não planta, a cidade não janta. A experiência do projeto do Algodão Sustentável é um caldeirão de sucesso de produção agroecológica, segurança alimentar, resgate cultural e recordação da importância das políticas de reforma agrária. Estamos falando de fortalecimento das comunidades, para que possam dialogar com o poder público”, finaliza.