
Ciência e natureza unidas no reflorestamento com microrganismos
Pesquisadores paranaenses estão usando a ciência como aliada da natureza no combate aos efeitos das mudanças climáticas. O projeto NAPI Biodiversidade Ristore desenvolve tecnologias baseadas em microrganismos como fungos e bactérias para fortalecer mudas de árvores e torná-las mais resistentes a condições adversas como a seca e o calor extremo.
A iniciativa reúne universidades estaduais do Paraná, como UEL, UEM, UENP e UEPG, além de instituições da França e da Alemanha, como as universidades de Marselha e Munique. A coordenação institucional do projeto é feita por Jesiane Stefania da Silva Batista, que destaca o foco em soluções naturais para impulsionar a restauração ecológica de áreas florestais.
“Queremos que essa tecnologia chegue a quem precisa, que não fique apenas em artigos científicos. O objetivo é uma restauração ecológica mais bem-sucedida frente às emergências climáticas”, afirma Jesiane.
Inovação no campo com uso de bioinsumos florestais
Inspirado na agricultura, o projeto aplica técnicas já conhecidas na produção de soja e milho — como o uso de bioinsumos — às espécies nativas brasileiras. A ideia é melhorar o desempenho das mudas florestais por meio da inoculação com microrganismos, algo inédito em larga escala na área de reflorestamento.
Segundo Jesiane, o Brasil já é referência mundial em bioinsumos agrícolas, e essa expertise agora é transferida para a biotecnologia florestal. O projeto começou entre 2021 e 2022 e já testou mais de 2 mil microrganismos em laboratório.
“Utilizamos uma tecnologia da agricultura para trazer melhorias também às espécies nativas, com mais cuidado e respeito à biodiversidade”, explica a coordenadora.
Etapas da pesquisa vão do laboratório ao campo
A pesquisa é dividida em três frentes principais: laboratório, viveiro e campo. Na primeira fase, os microrganismos são isolados e testados. Depois, os melhores candidatos seguem para testes em viveiros, onde são avaliados em condições controladas. A terceira etapa é a aplicação a campo, que já ocorre em áreas como Ponta Grossa (PR).
Os resultados são promissores: mudas com maior altura, melhor diâmetro, raízes mais desenvolvidas e resistência ampliada à seca. Algumas combinações testadas no campo mostraram maior sobrevivência das árvores e desempenho acima da média.
“Essas melhorias aumentam a taxa de sucesso do reflorestamento e reduzem perdas, tornando o processo mais eficiente e adaptado às mudanças climáticas”, comenta Jesiane.
Internacionalização e próximos passos
O projeto já despertou interesse internacional, com testes em andamento na França e na Alemanha. A fase atual foca na transferência de tecnologia para a sociedade, buscando parcerias com ONGs, empresas, viveiristas e gestores ambientais.
A equipe está trabalhando para que os insumos desenvolvidos possam ser usados de forma acessível por quem atua na restauração ambiental. A ambição é transformar conhecimento em prática, ajudando projetos de reflorestamento no Brasil e no exterior.
“A ciência precisa estar a serviço da natureza. E isso é o que nos move: gerar impacto real no enfrentamento da crise climática”, conclui a pesquisadora.
Rumo a um reflorestamento mais eficiente
O NAPI Biodiversidade Ristore demonstra que inovação e conservação podem caminhar juntas. Com o apoio de universidades, instituições públicas e parcerias internacionais, o projeto transforma pesquisa em ferramenta concreta de recuperação ambiental. O uso estratégico de microrganismos no reflorestamento representa uma esperança frente aos desafios crescentes da crise climática global.