
Em entrevista à COP TV do Agro nesta quinta-feira (20), o assessor especial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Augustin, afirmou que a recuperação de solos degradados deve orientar a próxima década de expansão agrícola no país. Ele reforçou que o Brasil ainda trabalha abaixo de seu potencial produtivo e que a solução passa por reorganizar o que já existe antes de abrir novas fronteiras.
Augustin explicou que a lógica é simples: o país não precisa avançar sobre vegetação nativa se recuperar terras que já foram abertas, mas que perderam capacidade produtiva ao longo dos anos. Ele citou que o Brasil possui hoje cerca de 50 milhões de hectares de culturas anuais, enquanto o programa federal de reestruturação prevê restaurar 40 milhões de hectares em dez anos.
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Segundo ele, essa escala permite projetar uma transformação sem precedentes. “Nós temos condições de dobrar a área produtiva sem derrubar um pé de árvore, apenas elevando a produtividade dessas áreas que hoje produzem pouco ou nada”, afirmou.
Restauração passa por reorganização agrícola
Na entrevista concedida à repórter Michelle Jardim, Augustin ressaltou que essa agenda começa pelo Rio Grande do Sul, que passa por um processo de reorganização agrícola após perdas recentes.
Para o assessor, contudo, o modelo vale para todo o país. Ele observou que há regiões com solos deteriorados, pastagens subutilizadas e até áreas que nunca receberam técnica adequada. “Se o solo não estiver estruturado, o estado não vai para frente — e isso serve para o Brasil inteiro”, disse.
Ao comentar o impacto econômico, ele observou que manter áreas improdutivas se tornou um dos principais entraves ao aumento de renda e competitividade. Em suas palavras, trata-se de transformar terras que hoje entregam quase nada em sistemas capazes de gerar resultados consistentes.
Embrapa como peça-chave
Augustin também destacou o papel da Embrapa nessa estratégia. Segundo ele, a instituição é responsável por definir protocolos de manejo, indicadores de sustentabilidade e métodos de auditoria dos resultados. “Sem a Embrapa, esse programa não aconteceria. Ela participa da criação dos critérios e da mensuração de tudo o que precisa ser comprovado em campo”, afirmou.
O assessor lembrou que muitos produtores só terão acesso ao crédito de recuperação se cumprirem métricas claras, o que exige tecnologia, acompanhamento e validação. Para ele, essa exigência é justamente o que dá credibilidade ao programa.
Ao comentar o cenário atual, Augustin citou a pecuária como exemplo de mau aproveitamento de terras. A média nacional de uma cabeça por hectare, segundo ele, revela um modelo de baixa eficiência que mantém grandes áreas pouco produtivas. A recuperação de solo, para ele, é o instrumento capaz de puxar esses índices para cima. “É sair do nada para alguma coisa muito boa. É isso que precisamos fazer em escala nacional”, concluiu.