Redução de perdas no agronegócio: um imperativo para alcançar a segurança alimentar global
As perdas de grãos ao longo da cadeia produtiva representam um desafio crítico para o agronegócio brasileiro, que precisa maximizar a eficiência para atender à crescente demanda mundial por alimentos e combater a fome de forma sustentável.
A crescente demanda mundial por alimentos, impulsionada pelo aumento da população e da renda per capita, coloca uma pressão sem precedentes sobre o setor agropecuário. De acordo com a FAO, será necessário aumentar a produção de alimentos em 70% até 2050 para suprir essa demanda. No entanto, um dos principais desafios para alcançar essa meta é a redução do desperdício de alimentos, que hoje representa entre 30% e 50% da produção mundial, segundo o Instituto de Engenharia Mecânica do Reino Unido.
No Brasil, o cenário é igualmente alarmante. Estima-se que 15% das perdas de grãos ocorram nas etapas iniciais da cadeia produtiva, incluindo a produção, armazenamento, transporte e processamento. Em 2020, a produção brasileira dos cinco principais grãos – arroz, trigo, milho, soja e cevada – atingiu 244,8 milhões de toneladas, mas cerca de 36,7 milhões de toneladas foram perdidas ao longo do processo. Esse desperdício representa um prejuízo estimado em R$84,8 bilhões, valor suficiente para adquirir 134,8 milhões de cestas básicas e alimentar 11,2 milhões de brasileiros por um ano.
Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, destaca que a eficiência na cadeia produtiva é crucial para mitigar essas perdas e atender à crescente demanda global de forma sustentável. “Não basta apenas aumentar a produção, é fundamental colher de maneira eficiente e reduzir ao máximo as perdas ao longo da cadeia. O desperdício de alimentos não é apenas um problema econômico, mas também uma questão ética e de sustentabilidade,” afirma Gazzoni.
As perdas globais de grãos em 2020 somaram 458,1 milhões de toneladas, um volume quase duas vezes maior que toda a produção agrícola brasileira. Em termos de valor, essas perdas globais foram estimadas em US$176,1 bilhões, mais do que o PIB de muitos países da América Latina e Caribe. Além do impacto financeiro, as perdas de grãos representaram um desperdício de 1.600 trilhões de kcal, suficientes para suprir as necessidades energéticas de 120% da população mundial que sofre de desnutrição.
A redução dessas perdas exige a colaboração de todos os elos da cadeia produtiva – produtores, agrônomos, líderes setoriais e formuladores de políticas públicas. É urgente adotar tecnologias e práticas que maximizem a eficiência produtiva e minimizem o desperdício, garantindo que cada grão produzido chegue ao consumidor final. Somente assim será possível atender à demanda mundial por alimentos de forma sustentável e contribuir para a erradicação da fome.