Reserva Legal em chamas: o desafio do manejo e combate ao fogo

Além de afetar gado e pastagens, incêndios em Cáceres/MT colocam florestas em risco e levantam questionamentos sobre as dificuldades de combate ao fogo nas áreas de reserva legal

No assentamento Laranjeiras, zona rural de Cáceres, Mato Grosso, os incêndios florestais têm causado estragos devastadores nas propriedades rurais, deixando produtores como Gilson à mercê de prejuízos incalculáveis.

O fogo, alimentado pelas altas temperaturas e pela seca severa, destruiu cercas, gado e parte da reserva legal das fazendas. “A gente tem uma média de 200 cabeças, mas perdemos muitas delas, além das cercas queimadas. O gado, em vez de correr para longe, foi direto para o fogo”, lamenta Gilson, que ainda contabiliza os danos.

Como proteger as reservas legais?

A reserva legal, uma área de vegetação nativa que os produtores devem manter intacta em suas propriedades, foi uma das mais atingidas. O acúmulo de matéria orgânica e a falta de acessos adequados para brigadas de combate ao fogo tornaram a situação ainda mais desafiadora. “Sem acessos adequados, ninguém consegue combater o fogo”, comenta Sebastião, outro produtor que também perdeu grande parte de seu rebanho.

As áreas de reserva legal são frequentemente as mais afetadas por incêndios, enfrentando grandes desafios no controle e combate ao fogo.

“Tem que ter acesso de caminhão tanque, tem que ter acesso de pá carregadeira, tem que ter acesso de equipe de brigadista e da forma que é feito infelizmente não tem condição de ninguém acessar aqueles lugares lá, e sem acesso não tem como enfrentar o fogo”, explicou Aury Paulo Rodrigues, presidente do Sindicato

Por se tratar de uma área de floresta densa e sem estradas ou caminhos, o acesso por terra é praticamente inviável nas áreas de reserva legal.

Além disso, o combate aéreo não é eficaz, pois a água lançada pelos aviões não penetra adequadamente na vegetação, ficando retida nas copas das árvores, sem chegar ao solo onde o fogo se propaga.

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Multas por incêndios acidentais

Os produtores também se preocupam com as penalidades ambientais que podem recair sobre eles no caso de reservas legais destruídas pelo fogo acidental.

“Nós estamos protegendo o meio ambiente, mas não sabemos como a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) vai lidar com essa situação. Queremos justiça, e não punição por algo que não causamos”, desabafa Gilson.

Apesar das dificuldades, alguns produtores têm buscado emitir laudos junto ao Corpo de Bombeiros, que identificam a origem dos incêndios e eximem os proprietários de responsabilidades quando o fogo tem origem fora de suas terras. “Se o incêndio começou fora da sua propriedade e entrou nela, você é uma vítima, não o causador”, explica Sebastião.

O incêndio em Cáceres reflete um problema recorrente em diversas áreas rurais do Brasil: a vulnerabilidade das propriedades frente às queimadas e a falta de infraestrutura para combatê-las.

Enquanto os órgãos ambientais investigam as causas, os produtores tentam se recuperar do impacto financeiro e ambiental, com foco especial na recuperação da vegetação nativa e na proteção da reserva legal.