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Setor agro avança na construção do primeiro índice de agricultura regenerativa do país

O trabalho deve ser concluído até a COP da Austrália, para apresentar um modelo de agricultura tropical brasileira replicável na faixa equatorial

A cientista e professora Ludmila Rattis lidera a reunião que discute a criação do primeiro índice de agricultura regenerativa do Brasil  - Foto: Marcius Ariel
A cientista e professora Ludmila Rattis lidera a reunião que discute a criação do primeiro índice de agricultura regenerativa do Brasil - Foto: Marcius Ariel

O Brasil segue na vanguarda quando o assunto é agricultura regenerativa. Mas, apesar dos avanços, ainda há lacunas importantes em conceitos, práticas e políticas públicas. Para discutir essas questões, especialistas, produtores, pesquisadores, empresas do agro e formadores de opinião se reuniram em São Paulo, na Fundação Dom Cabral, em um workshop voltado à construção do primeiro índice de agricultura regenerativa do país. O encontro, que termina nesta sexta-feira (22), marca a primeira etapa de um processo que pretende consolidar a produção sustentável no território brasileiro.

O índice de agricultura regenerativa surge como uma ferramenta inovadora para o setor. A ideia é quantificar práticas em áreas-chave, como solo, água, carbono, clima e biodiversidade, oferecendo um indicador que vá de 0 a 10 para cada talhão agrícola. Com isso, será possível apoiar políticas públicas, facilitar o acesso a financiamentos seguros e agregar valor à produção regenerativa brasileira.

A cientista Ludmila Rattis explica que o índice será inclusivo e progressivo. “Todos os talhões do país precisam estar contemplados, e as práticas adotadas já na safra 2025/26 devem ser contabilizadas. O objetivo é que cada produtor consiga medir e evoluir sua performance de forma contínua”, detalha.

Agricultura regenerativa na faixa equatorial

O desenvolvimento do índice começou há cerca de dois anos e chega em momento estratégico. O Brasil e a Austrália sediarão reuniões da COP, a conferência mundial sobre mudanças climáticas, nos próximos anos, enquanto outros países da faixa equatorial, como Nigéria e Índia, também podem receber eventos os eventos. O índice brasileiro pretende consolidar uma agricultura tropical sustentável que sirva de referência internacional.

Mais do que medir práticas, o workshop também discutiu modelos de financiamento, inserção de ciência e tecnologia, e o acesso de pequenas e médias propriedades a inovações. O debate envolve ainda a construção de um “colchão” de políticas públicas que permita ao setor avançar de forma estruturada e segura.

A agricultura regenerativa, além de sustentável, tem papel estratégico para o futuro econômico do país. Até 2030, a meta é recuperar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas, um objetivo do plano ABC+. Para isso, investimentos em pesquisa, tecnologia e capacitação são essenciais.

“O futuro do país depende de como nos inserimos no mercado internacional. É preciso aumentar a troca de conhecimento e tecnologia, industrialização e produtividade. Se criarmos soluções isoladas, que não dialogam com o mundo, prejudicamos o setor como um todo”, comenta Marcello Brito, diretor acadêmico da FDC (Fundação Dom Cabral) Agroambiental.

Mais segurança nos financiamentos

O workshop reforça que a agricultura regenerativa deve se alinhar à dinâmica global, com foco em resultados mensuráveis e replicáveis. A construção de um arcabouço legal sólido é um passo fundamental para garantir que a produção sustentável seja reconhecida e valorizada.

Com recursos adequados para pesquisa, será possível entender melhor os solos brasileiros, as emissões de carbono e os fatores que influenciam a sustentabilidade das propriedades. Esses dados permitirão criar políticas públicas mais assertivas e apoiar produtores em decisões estratégicas.

“Esse índice vai ser capaz de, quando oferecido para a sociedade, suportar as políticas públicas, ajudar o agricultor a melhorar a sua gestão e oferecer ao segmento financeiro um instrumento confiável, garantindo mais segurança nos financiamentos. A gente também acredita que esse índice vai ajudar muito a oferecer e agregar valor à produção regenerativa brasileira”, conclui Eduardo de Souza Martins, presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS).

Ao quantificar as práticas agrícolas, os produtores terão um parâmetro claro para evoluir, enquanto o setor financeiro poderá oferecer linhas de crédito e investimentos com maior segurança. A expectativa é que, ao final do próximo ano, o índice esteja pronto para ser apresentado em fóruns internacionais, incluindo a COP na Austrália, como um movimento representativo da agricultura tropical brasileira.

Próximos encontros

A reunião em São Paulo marcou ainda o início de um diálogo sobre desafios globais e dinâmicas geopolíticas que impactam o agro. O país, com negociações habilidosas e foco em ciência e tecnologia, busca entregar ao mundo uma mensagem positiva: é possível alinhar desenvolvimento econômico, produção agrícola e sustentabilidade ambiental.

O próximo encontro do grupo vai discutir políticas públicas e mecanismos de financiamento, áreas ainda carentes, mas essenciais para consolidar a agricultura regenerativa no Brasil. Com arcabouço legal adequado e indicadores claros, o país poderá liderar a transformação do setor e fortalecer sua posição no mercado internacional. O evento ainda não tem data definida.

Marcius Ariel
Repórter do Planeta Campo, do Canal Rural. Produz conteúdo multiplataforma sobre sustentabilidade, com trabalhos realizados nos seis biomas do Brasil.
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