EXEMPLO

Conheça a cidade maranhense que virou referência mundial em soja sustentável

Com 800 mil toneladas por ano, Maranhão e Piauí se destacam na produção de soja certificada RTRS no Brasil

Matopiba lidera avanço da soja sustentável com selo RTRS - Foto: Reprodução/Canal Rural
Matopiba lidera avanço da soja sustentável com selo RTRS - Foto: Reprodução/Canal Rural

Localizado em uma das principais fronteiras agrícolas do país, o município de Balsas (MA) tem se destacado como referência nacional em sustentabilidade no agronegócio. Inserido no Matopiba — região estratégica formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — o polo produtivo reúne tecnologia, escala e responsabilidade socioambiental, avançando com práticas alinhadas aos critérios ESG.

Um dos grandes marcos dessa transformação é a adoção crescente da certificação internacional RTRS (Round Table on Responsible Soy), que chancela propriedades que produzem soja com desmatamento zero, boas práticas trabalhistas, uso de bioinsumos, rotação de culturas e integração lavoura-pecuária.

Com apoio da FAPCEN (Fundação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte “Irineu Alcides Bays”), produtores locais têm adotado o modelo da soja certificada como caminho estratégico para acessar mercados exigentes e mais rentáveis, como o europeu e o chinês. A adesão ao selo é voluntária, e a procura tem crescido.

“A certificação veio dar um novo modelo, uma nova visão de administrar uma propriedade rural. É uma adesão voluntária, onde é o produtor rural que nos procura. É mais que uma ISO internacional. E nós estamos reconhecidos pelo mercado europeu e chinês”, explica a superintendente da Fapcen, Gisela Introvini.

Segundo Gisela, o Maranhão e Piauí concentram o maior volume de soja certificada do Brasil, com destaque para Balsas. A demanda por técnicos capacitados para atender novos produtores cresce a cada safra, impulsionando também a geração de empregos qualificados e fortalecendo a economia regional.

“É um novo modelo muito procurado atualmente. Temos propriedades rurais que nos enchem de orgulho pelos prêmios que recebem com trabalhos científicos sobre carbono estocado. É o reconhecimento do profissionalismo do homem do campo e da valorização territorial da região”, afirma.

O reflexo é percebido na geração de empregos qualificados, na valorização territorial e na abertura de novos mercados. Segundo Gisela, propriedades da região já são premiadas por pesquisas científicas ligadas à fixação de carbono no solo, ampliando a visibilidade do agronegócio do cerrado nordestino.

Agrobalsas: um palco para a nova agricultura

Essa virada de chave no campo é celebrada e potencializada anualmente no Agrobalsas — um dos principais eventos do agro no Matopiba, que chega à sua 21ª edição em 2025. Realizado entre os dias 12 e 16 de maio, na Fazenda Sol Nascente, o encontro trará como tema central “Construindo Pontes”, com foco no equilíbrio entre produção, preservação e desenvolvimento social.

A região de Balsas é considerada uma das principais fronteiras agrícolas do Brasil, com forte presença na produção de soja, milho e algodão. Há duas décadas, pesquisadores e produtores locais enfrentaram o desafio de adaptar o cultivo da soja à linha do Equador, com clima quente e altitudes mais baixas. A aposta em pesquisa e desenvolvimento gerou resultados.

“Há 20 anos coordenamos o projeto da introdução da soja na linha do Equador. Era um desafio grande por causa das condições climáticas. Precisávamos de cultivares produtivas e adaptar a tecnologia. O Agrobalsas ajudou muito nesse processo, despertando também a importância da rotação de cultivos”, lembra Gisela.

Brasil lidera no mundo

O avanço da soja certificada vai além de Balsas — é parte de um movimento global. Em 2024, a produção mundial de soja com selo RTRS chegou a 7,5 milhões de toneladas, cobrindo 2,2 milhões de hectares. O Brasil lidera com folga: foram cerca de 6,4 milhões de toneladas, com grande parte vinda do Matopiba.

A FAPCEN é hoje o maior grupo de soja certificada do país, responsável por mais de 69% do volume RTRS do Maranhão e 100% do que é certificado no Piauí. São mais de 800 mil toneladas por ano, colocando os dois estados entre os protagonistas do agro sustentável.

Do outro lado do mundo, a Índia chama atenção com 580 mil toneladas de soja certificada em 270 mil hectares — avanço impulsionado especialmente por pequenos produtores. Já Argentina, Paraguai e Uruguai somam juntas cerca de 540 mil toneladas certificadas em 300 mil hectares.

Marcius Ariel
Repórter do Planeta Campo, do Canal Rural. Produz conteúdo multiplataforma sobre sustentabilidade, com trabalhos realizados nos seis biomas do Brasil.
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