Você sabia que já é possível medir a quantidade de capim disponível no pasto usando apenas imagens de satélite e dados climáticos? A inovação, desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente, permite estimar a massa de forragem com até 86% de precisão, auxiliando o pecuarista no planejamento da carga animal e na recuperação das áreas com baixa produtividade.
Em entrevista ao programa Planeta Campo, a pesquisadora Sandra Furlan Nogueira explicou como funciona essa nova metodologia. A pesquisa começou em 2019, com dois anos de monitoramento mensal de piquetes na unidade da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), sempre em sincronia com as passagens dos satélites. Os dados de campo foram comparados com os obtidos por sensoriamento remoto e, com isso, foi possível calibrar um modelo matemático capaz de prever a disponibilidade de forragem.
Monitoramento em tempo real e gratuito
O modelo desenvolvido pela Embrapa usa dados gratuitos de satélites e estações meteorológicas, o que viabiliza sua adoção por produtores de diferentes portes. A tecnologia foi validada em três sistemas pecuários distintos:
- Sistema extensivo de lotação contínua, o mais comum no país
- Sistema de integração lavoura-pecuária
- Sistema intensificado com lotação rotacionada e adubação
A estimativa da biomassa pode ser feita semanalmente, o que representa um avanço importante para a gestão das pastagens. “Com a imagem de satélite da semana e os dados de clima atualizados, o produtor consegue saber a quantidade de capim em cada piquete e planejar a entrada dos animais”, explica Sandra.
Planejamento estratégico e maior produtividade
A ferramenta oferece benefícios concretos para o produtor rural. Em grandes fazendas, por exemplo, é possível monitorar toda a área simultaneamente, o que facilita decisões como o ajuste da lotação animal e a identificação de áreas degradadas. A partir daí, o pecuarista pode aplicar estratégias de recuperação, garantindo maior eficiência no uso das pastagens.
Além disso, ao fornecer dados confiáveis e em tempo quase real, a tecnologia ajuda a evitar a superlotação e a degradação do solo, contribuindo para uma pecuária mais sustentável e rentável. Segundo a pesquisadora, o sistema permite que consultores e gestores tenham uma visão mais clara da produtividade por área ao longo do tempo.
Plataforma ainda será automatizada
Apesar dos avanços, a plataforma ainda não está disponível para o produtor. A Embrapa trabalha agora na automação do modelo para torná-lo mais acessível e fácil de usar. “Queremos desenvolver uma interface amigável, na qual o usuário insira os dados da fazenda, do clima e das imagens e receba a estimativa da massa de forragem”, afirma Sandra.
O próximo passo será a transferência da tecnologia para parceiros da iniciativa privada ou universidades, com o objetivo de torná-la comercialmente disponível. “O papel da pesquisa foi feito. Agora a missão é que essa solução chegue ao campo, para contribuir com o aumento da produtividade e a sustentabilidade da pecuária brasileira”, conclui a pesquisadora.