Tecnologia e Capacitação: O caminho para a restauração florestal sustentável no Brasil
A coordenadora de cadeias florestais do Imaflora, Natalie Vilas Boas, destaca as barreiras e as soluções para alcançar a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030.
A restauração florestal está no centro das estratégias para conter o aquecimento global e promover benefícios sociais e econômicos significativos. No entanto, a obtenção de mão de obra para essa atividade ainda enfrenta diversos desafios. Natalie Vilas Boas, coordenadora de cadeias florestais do Imaflora, discutiu recentemente os principais gargalos e as possíveis soluções para impulsionar a restauração florestal no Brasil.
De acordo com um estudo do Imaflora, a restauração de 12 milhões de hectares de florestas até 2030, uma das principais metas do Brasil no Acordo de Paris, pode adicionar R$ 19 bilhões ao PIB brasileiro e gerar mais de 5 milhões de empregos, sendo metade diretamente no campo. Contudo, a realização dessa meta enfrenta obstáculos significativos.
“Realizamos uma pesquisa de percepção com o setor de restauração e identificamos cinco principais gargalos na contratação e manutenção de mão de obra no campo”, explica Natalie. “A falta de capacitação técnica específica é o primeiro deles. Os trabalhadores precisam ser treinados para as atividades de restauração florestal, o que atualmente é escasso.”
Outro desafio destacado por Natalie é a questão dos salários baixos. “Assim como na agricultura, os salários no setor de restauração florestal são baixos, o que desmotiva os trabalhadores”, diz ela. Além disso, a dificuldade em cumprir legislações trabalhistas e a própria natureza do trabalho, que envolve esforço físico, exposição ao sol e isolamento, também são barreiras significativas.
A sucessão de jovens no meio rural é um desafio adicional. “Os jovens se desinteressam pelo trabalho pesado no campo, especialmente na restauração florestal. No entanto, vemos uma solução na inclusão de tecnologia no campo”, afirma Natalie. “Os jovens se interessam por tecnologia, e a criação e operação de máquinas para realizar a restauração é uma grande oportunidade. Já temos tecnologias como o plantio e a semeadura por meio de drones.”
Além das máquinas e drones, a capacitação técnica é fundamental. “Capacitar os jovens e valorizar financeiramente o trabalho deles torna a atividade mais atraente. As mulheres também podem encontrar oportunidades nesse setor, que ainda é majoritariamente masculino”, comenta Natalie.
Para impulsionar a restauração florestal em larga escala e garantir benefícios sociais, é essencial aumentar o acesso aos recursos. “Os projetos de restauração precisam de acesso a fundos e políticas públicas que aumentem os recursos, especialmente para a mão de obra. Isso inclui capacitação, melhoria salarial e inclusão de tecnologias”, destaca Natalie.
O Imaflora possui um programa chamado Carbon Track, que verifica a condição trabalhista e de saúde e segurança dos trabalhadores em projetos de restauração, além de medir o carbono removido. “É importante ter processos de auditoria para aumentar a integridade dos projetos de restauração”, afirma Natalie.
“A restauração florestal não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica e social. Com mais capacitação, melhores salários e inclusão de tecnologias, podemos superar os desafios e alcançar nossos objetivos”, conclui Natalie Vilas Boas.
O trabalho de Natalie e do Imaflora mostra que a restauração florestal é uma atividade complexa, mas cheia de potencial para transformar o cenário ambiental e econômico do Brasil. A meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 é ambiciosa, mas com as estratégias certas, é possível alcançar um futuro mais verde e próspero.