OPORTUNIDADES

Transição Climática: Como a nova economia pode incluir e gerar renda na Amazônia

Andrea Azevedo, diretora do Fundo JBS pela Amazônia, destaca a importância da inclusão das comunidades locais nas oportunidades geradas pela nova economia sustentável.

Fundo JBS pela Amazônia já investiu cerca de R$ 100 milhões em projetos na Amazônia – Foto: Reprodução/Planeta Campo
Fundo JBS pela Amazônia já investiu cerca de R$ 100 milhões em projetos na Amazônia – Foto: Reprodução/Planeta Campo

A transição climática e a construção de uma nova economia precisam ir além da redução de emissões de poluentes. O desafio é garantir que esse novo modelo seja inclusivo, gere renda e ofereça oportunidades para as comunidades que vivem da floresta. Projetos como o Restaura Amazônia, apoiado pelo Fundo JBS pela Amazônia, mostram como é possível aliar sustentabilidade e desenvolvimento econômico na região.

Até o final da década, economistas envolvidos nas negociações climáticas estimam que será necessário investir US$ 1 trilhão por ano para que países em desenvolvimento possam financiar a transição para energias mais limpas e se proteger dos eventos climáticos extremos. Contudo, os acordos firmados na Conferência do Clima em Baku, Azerbaijão, ficaram bem abaixo dessa meta, com US$ 300 bilhões anuais.

Com a próxima COP acontecendo no Brasil, a expectativa é de avanços concretos. De acordo com Andrea Azevedo, diretora do Fundo JBS pela Amazônia, a transição climática precisa garantir que os mais vulneráveis também sejam beneficiados.

“O mais importante dessa transição climática e da nova economia é que ela deve ser inclusiva. Ela tem que incluir e não excluir”, destacou a líder da JBS que tem sua trajetória dedicada à sustentabilidade e ao desenvolvimento socioeconômico da Amazônia.

Fundo JBS pela Amazônia

Criado em 2020, o Fundo JBS pela Amazônia apoia iniciativas que promovem a inclusão social e produtiva de agricultores familiares. No total, são 20 projetos com investimentos que já somam cerca de R$ 100 milhões. O Restaura Amazônia é um dos maiores projetos de agricultura familiar da região, desenvolvido em parceria com a fundação Solidaridad.

Em uma área marcada por desmatamento ilegal e grilagem, a iniciativa leva assistência técnica a pequenos produtores, permitindo que tenham acesso a crédito, novas tecnologias e entrem na cadeia formal de produção. O projeto uniu a pecuária tradicional com a agrofloresta de cacau, resultando em impactos significativos na produção.

“Nos projetos que apoiamos, conseguimos aumentar em 220% a produtividade, integrando pecuária com recuperação de pastagens”, explica Andrea.

Andrea Azevedo em visita a um dos projetos do Fundo JBS pela Amazônia – Foto: Reprodução/Planeta Campo

Bioeconomia e uso inteligente dos recursos

A bioeconomia também ganha destaque na COP 30, com exemplos concretos de aproveitamento inteligente dos recursos da floresta. Em Manaus, um projeto transforma os resíduos da castanha-do-Brasil em bioplástico, reduzindo o impacto ambiental e gerando renda para cooperativas locais.

Cinco comunidades trabalham na extração e processamento da castanha, e o invólucro externo – uma casca resistente que antes era descartada – agora é utilizada como insumo para misturas com polipropileno, um material derivado do petróleo. O resultado é um plástico mais biodegradável, com menor impacto ambiental e valor agregado para as famílias envolvidas.

O potencial da biodiversidade brasileira

O caminho para um modelo econômico mais inclusivo e sustentável passa pelo fortalecimento de cadeias produtivas compatíveis com a conservação da floresta. O açaí e a castanha já são bem conhecidos, mas outros produtos, como o amido de babaçu – um substituto do amido de mandioca e milho –, vêm ganhando espaço e valorização no mercado.

Muitos ingredientes utilizados pela indústria brasileira ainda são importados, quando poderiam ser obtidos a partir da biodiversidade local. Isso aumentaria a competitividade brasileira, além de gerar renda para pessoas que vivem da floresta.

“Por que não usar muito mais os recursos que já temos? A expansão dessas cadeias produtivas depende de um movimento conjunto entre setor privado, governo e academia”, analisa Andrea.

A COP da Amazônia

A COP 30, que será realizada em Belém, Pará, em 2025, reunirá representantes de cerca de 190 países para discutir os desafios, oportunidades e compromissos globais no combate às mudanças climáticas.

Além disso, será um momento estratégico para debater mecanismos de financiamento climático, políticas públicas e iniciativas inovadoras que conciliem a preservação da floresta com geração de renda para as populações locais.

Marcius Ariel
Repórter do Planeta Campo, do Canal Rural. Produz conteúdo multiplataforma sobre sustentabilidade, com trabalhos realizados nos seis biomas do Brasil.