ORÇAMENTO DE CARBONO

Brasil perto do limite climático: o que o agro precisa fazer agora

Estudo global revela que restam apenas três anos de emissões possíveis para manter o aquecimento em 1,5°C; especialista da FGV alerta para ações urgentes no agronegócio, indústria e energia.

Brasil perto do limite climático: o que o agro precisa fazer agora

A quantidade de carbono que o planeta ainda pode emitir antes de ultrapassar o limite de 1,5°C no aquecimento global está no fim. O alerta veio do relatório Indicators of Global Climate Change, que indica que 50% do chamado orçamento de carbono já foi consumido. Isso significa que, se mantivermos o ritmo atual de emissões, o planeta ultrapassará a barreira crítica em apenas três anos.

Para entender o que isso representa para o Brasil, especialmente para o setor agropecuário e a economia global, o Planeta Campo conversou com Marina Esteves, pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV. Segundo ela, o orçamento de carbono é o volume total de emissões de CO₂ que ainda podemos lançar na atmosfera para limitar o aumento da temperatura global. Se esse limite for ultrapassado, os efeitos da crise climática tendem a se intensificar de forma irreversível.

1,24°C de aquecimento já foi atingido entre 2015 e 2024

De acordo com o estudo, o período entre 2015 e 2024 já registrou uma média de 1,24°C de aquecimento global, ficando perigosamente próximo do teto de 1,5°C. “Se continuarmos nesse ritmo, o orçamento de carbono se esgota até 2028, e com isso a meta de limitar o aquecimento até o final do século fica inviável”, alerta Marina.

Ela reforça que o cenário exige respostas rápidas e concretas dos países, principalmente no que diz respeito à atualização de metas climáticas e à adoção de planos de ação claros e transparentes. “A expectativa é que essas metas sejam fortalecidas na COP30, que será realizada no Brasil”, destaca.

Agro, indústria e energia: os ajustes que precisam ser feitos

Entre os setores que mais devem contribuir com a mudança estão a energia, a indústria e o agronegócio. Marina destaca que o Brasil já possui uma vantagem na transição energética. “Mais de 50% da nossa matriz vem de fontes renováveis. O setor energético nacional já está se preparando para uma economia de baixo carbono”, diz.

Na indústria, a aprovação do mercado regulado de carbono no Brasil deve acelerar o processo de descarbonização. “Esse sistema cria um teto de emissões, incentivando os setores mais eficientes a descarbonizarem primeiro, enquanto os mais intensivos terão tempo para se adaptar”, explica a pesquisadora.

O papel do agronegócio na descarbonização

O agronegócio brasileiro também é peça-chave nessa equação. “O setor já conta com estratégias como o Plano ABC+, que promove práticas sustentáveis, recuperação de pastagens, integração lavoura-pecuária-floresta e uso eficiente do solo”, afirma Marina. Ela ressalta ainda a importância de incluir os pequenos e médios produtores no processo, garantindo apoio técnico e acesso a tecnologias regenerativas.

Além disso, políticas públicas como o Plano Clima, a transformação ecológica e a taxonomia sustentável brasileira devem orientar os investimentos do setor nos próximos anos.

O futuro da produção depende de ações urgentes

A entrevista termina com um chamado à ação. Segundo Marina Esteves, se quisermos garantir segurança alimentar, competitividade no comércio internacional e estabilidade econômica, o momento de agir é agora. “Cada setor precisa fazer sua parte. O futuro do clima e da produção global está diretamente ligado às decisões que tomarmos hoje”, conclui.

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