Menos volumoso e mais grãos e coprodutos na dieta do gado trazem ganhos de produtividade e ao meio ambiente
Pesquisa da Unesp aponta evolução na alimentação dos animais confinados no Brasil e mostra que distribuição programada da comida está entre os fatores que ajudam a melhorar a qualidade e a reduzir desperdícios
Uma pesquisa da Unesp em Jaboticabal, interior de São Paulo, aponta que a qualidade da dieta do gado brasileiro confinado para abate melhorou. O estudo foi feito entre o final de 2023 e início de 2024, com 36 nutricionistas responsáveis pela alimentação de seis milhões de animais de todo o país. Este número corresponde a 80 por cento dos bois confinados no Brasil.
“Os principais motivos dessa melhora na qualidade do alimento se deve principalmente a aplicação de tecnologias. Não só a aplicação de tecnologias nutricionais, pela melhora do processamento dos alimentos oferecidos, mas também melhoras estruturais de equipamentos. Por exemplo, os vagões de mistura, os misturadores, melhoraram muito nos últimos 15 anos nos confinamentos do país”, disse o professor da Unesp, Danilo Millen, em entrevista ao Planeta Campo.
Um dado que chama a atenção é que os nutricionistas estão diminuindo a inclusão de ingredientes volumosos (forragem) na dieta do gado. Essa parte da alimentação é composta principalmente por silagem de milho e, às vezes, por silagem de capim e bagaço de cana.
Em 2009, quando foi divulgado o primeiro levantamento sobre o assunto, os volumosos correspondiam a 28,8% da alimentação do gado confinado. Na pesquisa divulgada agora, o percentual caiu para 15,7%. Em contrapartida, cresceu a inclusão de ingredientes concentrados, como grãos de cereais, considerados a principal fonte de energia para bovinos confinados, de 71,2% para 84,3% em 15 anos.
“Todas essas mudanças são positivas porque o boi, como todo animal ruminante, não evoluiu para comer ingredientes processados, não evoluiu comendo grãos, por exemplo. Mas, por outro lado, a gente sabe que a inclusão de grãos nas dietas dos animais faz com que eles ganhem peso mais rapidamente, atinjam um ponto de abate de forma mais rápida. E aí todo investimento feito pelo confinador, pelo produtor, retorna mais rápido”, explicou Danilo. Entre os grãos mais utilizados na dieta do gado, o milho foi a primeira opção para 97,2% dos entrevistados na pesquisa.
O levantamento sobre manejo e perfil das dietas fornecidas a bovinos em confinamento aponta também para desdobramentos benéficos para o meio ambiente. Segundo os nutricionistas ouvidos pelo pesquisador, o número de clientes que usam coprodutos na dieta aumentou de 79,7% para 92,7%, entre 2009 e 2023. Entre os coprodutos mais comuns estão a polpa cítrica (26,4%), caroço de algodão (17,6%), torta de algodão (17,6%), casca de soja (8,8%), e os DDGs (20,5%), grãos secos de destilaria que são coprodutos da indústria de etanol de milho, considerados alternativa econômica e de alta qualidade proteica na dieta de bovinos.
“O aumento do consumo desses coprodutos pelo gado confinado é um ótimo sinal, pois os animais estão comendo resíduos nutritivos para eles e que, caso contrário, se transformariam em um problema ambiental”, destaca o pesquisador.
Alimentação programada e abate em crescimento
A melhor distribuição da dieta do gado também está entre os fatores que afetaram positivamente a qualidade da alimentação. O sistema conhecido como bica corrida, por exemplo, usado por 20% dos entrevistados, tem sido substituído pelo método de descarregamento programado, preferido por 80%.
“Esse método é uma distribuição programada por curral ou baia, ou seja, o confinado ou o tratador lá no momento de distribuir a ração no cocho, ele sabe exatamente o quanto que aqueles animais vão consumir. Parece um pouco óbvio, mas antigamente a maioria dos confinamentos faziam o que a gente chama de bica corrida”, explica o pesquisador.
“Pelo sistema de bica corrida, o produtor não tem controle sobre a quantidade de alimento que está sendo distribuída em cada baia, o que aumenta a chance de desperdício. Já pelo descarregamento programado, isso não acontece, porque é possível saber com mais precisão a quantidade requerida por cada grupo de animais, e há diversas alternativas tecnológicas para isso à disposição do criador”, complementa.
A pesquisa revela ainda que, em 2023, o percentual de animais confinados destinados ao abate subiu de 13,3% (39,1 milhões de cabeças) em 2021 para 18,2% (42,3 milhões de cabeças). É mais um indicador de que o confinamento pode trazer bons resultados aos produtores que querem mais produtividade em menos tempo.
O estudo constatou também que 80,9% dos clientes dos nutricionistas confinam animais da raça Nelore, de origem indiana, e que vem passando por constante melhoramento genético.
O Brasil tem um rebanho estimado de 202,8 milhões de cabeças bovinas, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), o equivalente a 12,18% do rebanho mundial. Esse número é 3,3% maior do que o calculado em 2021. O país já é o segundo que mais confina no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Com informações da Unesp