Pecuária sustentável: precocidade e nutrição garantem menor emissão de metano pelos bovinos
Aditivos na ração dos bovinos não interferem na produtividade, mas o animal diminui a emissão de metano em até 25%.
A emissão de gás metano pelos bovinos é um assunto muito discutido na pecuária. A novidade agora é um aditivo para nutrição animal feito a partir de tanino, que pode reduzir em até 25% a emissão de gases no efeito estufa.
O composto é fruto de um estudo que teve início há treze anos na Itália. o Brasil importou o experimento. O trabalho está sendo desenvolvido pelo Instituto de Zootecnia, em três regiões no estado de São Paulo, onde já se vê na prática os resultados.
Segundo o médico veterinário Marcelo Manella, além de ter uma pegada sustentável, é o único no país com certificado carbon trust. “O produto é feito à base de tanino. A gente reconhece que ele reduz a emissão de gases do efeito estufa. Tanto que, recentemente, nós conseguimos uma certificação para esse fim”, explicou
Digestão Complexa
Os bovinos têm um sistema digestivo complexo. Através dele, os alimentos não nobres , como o capim, são transformados em nutrientes de qualidade elevada. Tanto que produzem alguns dos ingredientes mais importantes para dieta humana, como o leite e a carne.
Segundo o estudo, quando são adicionados aditivos como o tanino na ração dos bovinos, não ocorre diferença alguma na produtividade, mas a produção tem grande chance de diminuir a emissão de metano em até 25%.
Eficácia comprovada
Para saber a real eficácia do aditivo, os pesquisadores do instituto de zootecnia entraram em ação com o apoio de grandes agroindústrias, como a JBS, estão analisando 120 animais da raça nelore em confinamento.
O zootecnista e especialista em emissão de metano em bovinos, Leandro Sakamoto, disse que a metodologia usada para mensurar o metano é a técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre.
“ O conceito base desta metodologia é que a gente vai conseguir estimar a emissão de metano, se uma taxa de emissão de um gás traçador que está dentro do animal, dentro do rúmen for conhecida. Então, no caso é o hexafluoreto de enxofre que a gente utiliza, esse gás ele foi escolhido porque é um gás que tem o mesmo comportamento do metano. Ele é um gás inerte também, não reage com nada dentro do animal; Por essas características, através dessa emissão do sf6, a gente consegue chegar na emissão do metano”, afirmou.
Tendência na produção
Segundo a Embrapa, o gás do tipo metano é considerado o segundo mais poluente da atmosfera. 70% da emissão vem de atividades humanas. Adotar ações que diminuam esse percentual é mais do que uma necessidade atual, é um dever para quem garantir a produção no futuro.
“A tendência é usar mais produtos naturais dentro da alimentação animal, já é uma tendência forte. O produtor vai ser cobrado, lá na frente, em algum momento, para que nossa carne seja de baixa emissão de carbono”, finalizou
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Precocidade
A fazenda São Francisco de Assis, localizada em Lagoinha, interior de São Paulo, é um exemplo de sustentabilidade e alta produtividade de gado de corte. O produtor José Isidoro Giaretta, à frente do negócio há 5 anos e sabe de cor o segredo do sucesso.
“O segredo é você implementar técnicas modernas de criação, Melhorar, pastos, suplementação , adquirir bezerros com alta genética e alimentação de qualidade. Ouse ja, consegui a lotação da fazenda alta”, disse.
A fazenda conta com 170 hectares e 800 cabeças de gado, uma média de 4.7 cabeças por hectare. Segundo o responsável técnico, a produção funciona assim: recria intensiva em sistema rotacionado a pasto com suplementação protéica e energética, até atingir 330 a 350 quilos. Os animais chegam com 8 meses e permanecem mais sete no pasto. Depois, passam pelo processo de engorda no confinamento até atingirem 570 kgs.
“O planeta agradece. Em uma área menor, você tem uma produção muito alta. Vale a pena economicamente além de ser sustentável. Eu gosto muito de manter minha fazenda com melhorias nas terras, das matas nas nascentes. Vale a pena, eu aconselho”, comentou o produtor.
Ciclo tradicional x precocidade
Segundo o zootecnista e responsável técnico pela propriedade, Luis Kodel, normalmente, o ciclo tradicional da pecuária no Brasil é de 34 a 40 meses de vida do animal. Isso significa que ele é abatido com 3 a 3 anos e meio no mínimo. mas, quando falamos em precocidade, como é o caso desta fazenda, o abate se dá com 20 a 22 meses, ou seja, menos de dois anos. ganha o produtor com rentabilidade e ganha o meio ambiente, com a redução da emissão de gás metano na atmosfera
“A gente não consegue pensar em precocidade se a gente não trabalhar com genética e nutrição aliada e principalmente sustentabilidade porque a base da fazenda é o solo. Se não pensarmos no solo, na pastagem, não conseguimos fazer a recria bem feita, afirmou.
Tecnologia
De acordo com estimativas do ministério da ciência, tecnologia e inovação, a pecuária responde por 14,5% das emissões de gases do efeito estufa. A emissão média anual de metano (ch4) por bovino é de 57 kg/animal/ano. ações para aumentar a eficiência dos sistemas de produção e melhorar o desempenho dos animais podem reduzir esse valor. O pesquisador da Embrapa, Guilherme Malafaia, acredita que a redução do ciclo da produção pecuária é um reflexo da utilização da tecnologia
“Nos últimos 20 anos, nos conseguimos encurtar esse ciclo para um período de 5 a seis anos. A explicação disso é o reflexo da dos ganhos de produtividade. Reflexo de tecnologia que está sendo empregada dentro do sistema de produção. Isso traz inúmeros ganhos ao pecuarista”. explicou.
O alto desempenho animal favorece a redução das emissões dos gases pelos bovinos. A produção de metano depende da quantidade e qualidade do alimento digerido, do tipo de animal, do grau de digestibilidade e até das condições de criação fazem a diferença.
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Depoimento
Para o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e presidente do Sebrae-SP, Tirso Meirelles, a sustentabilidade ganha força com a tecnologia, mas existem desafios, especialmente para o pequeno produtor. “Se nós não criarmos as ferramentas digitais que possam chegar aos pequenos e médios, os seus custos aumentaram muito”. Ainda de acordo com Meirelles, a chave pode estar na democratização do conhecimento tecnológico.
Assista o depoimento de Tirso Meirelles