As mudanças climáticas já impactam diretamente o dia a dia no campo. Nos últimos anos, eventos extremos — como estiagens prolongadas, calor fora de época e chuvas irregulares — tornaram-se mais frequentes e imprevisíveis. Para ajudar os produtores rurais a lidar com esse cenário desafiador, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) desenvolveu uma ferramenta gratuita que calcula o risco climático no agro com base nos dados de produtividade de cada propriedade.
Quem explica a novidade é o pesquisador André Andrade, entrevistado no programa Planeta Campo. Segundo ele, o sistema é capaz de identificar os principais fatores de vulnerabilidade de cada área agrícola, fornecendo informações que ajudam o produtor a tomar decisões mais assertivas sobre o que, quando e como plantar.
Sistema usa dados históricos de produtividade para prever riscos
O funcionamento da ferramenta é simples e eficiente. Andrade destaca que o cálculo do risco climático parte da análise da produtividade dos últimos anos em cada propriedade. A tecnologia cruza esse histórico com dados climáticos — como temperatura, volume de chuva e aridez — para entender como o clima afetou as safras anteriores.
“Assim conseguimos dizer ao produtor quais são os pontos mais críticos que impactam diretamente sua produção. O objetivo é oferecer mais previsibilidade para que ele possa se proteger e planejar melhor as próximas safras, especialmente em um cenário de mudanças climáticas intensas”, afirma Andrade.
Produtores podem acessar mapa de risco ou participar com dados individuais
Inicialmente, o IPAM disponibilizará um mapa público com o risco climático por região. Mas, para quem quiser uma análise mais refinada da própria propriedade, o instituto abriu uma chamada para até 500 produtores interessados em participar da fase piloto.
Para isso, basta acessar o site ipam.org.br, preencher um formulário com informações básicas da propriedade e dados de cultivo dos últimos anos. Segundo Andrade, “quanto mais detalhado for o histórico enviado, melhor será a calibração da análise”.
A ferramenta é capaz de processar dados de soja, milho, entre outras culturas, e leva em conta características específicas de cada ciclo produtivo, como plantio em primeira ou segunda safra (safrinha).
Mudanças climáticas já impactam produtividade no campo
Durante a entrevista, André Andrade lembrou que a safra 2023/2024 foi marcada por uma forte quebra de produtividade, especialmente na região do Cerrado e na Amazônia, causada pela seca e pelo fenômeno El Niño. “Esse foi um exemplo claro de como o clima está alterando o desempenho das lavouras. Se o produtor não tiver informação para se antecipar, os prejuízos tendem a ser maiores”, alerta.
Com a ferramenta desenvolvida pelo IPAM, o produtor poderá entender como eventos climáticos como atrasos no início das chuvas, aumento da temperatura ou queda na umidade relativa afetam diretamente a produtividade. Com esse diagnóstico, é possível fazer um planejamento de curto, médio e longo prazo, inclusive ajustando o calendário agrícola com base nas condições previstas.
Prevenção, tecnologia e protagonismo no enfrentamento climático
O projeto do IPAM representa mais um passo importante na adoção de tecnologias climáticas adaptativas no agronegócio brasileiro. A partir da integração de dados, o produtor rural passa a ser um agente estratégico na mitigação de riscos e na construção de um sistema produtivo mais resiliente.
Além disso, a iniciativa reforça o papel da ciência e da tecnologia como aliadas do campo na busca por produtividade com sustentabilidade. Com acesso facilitado e metodologia robusta, o sistema oferece uma nova camada de segurança para quem lida diretamente com os efeitos das mudanças do clima.
“Nosso objetivo é oferecer uma ferramenta prática, baseada em dados reais, que realmente ajude o produtor a entender e agir frente às vulnerabilidades climáticas da sua propriedade”, finaliza o pesquisador do IPAM.