‘É possível produzir mais, sem desmatamento’, diz Francisco Beduschi

Beduschi é engenheiro agrônomo e especialista em mercado de commodities agrícolas pela Esalq USP e formado pelo Programa de Liderança Ambiental da Universidade da Califórnia

‘É possível produzir mais, sem desmatamento’, diz Francisco Beduschi

No Planeta Campo Entrevista desta quarta-feira (26), o programa recebeu Francisco Beduschi,  engenheiro agrônomo e especialista em mercado de commodities agrícolas pela Esalq USP e formado pelo Programa de Liderança Ambiental da Universidade da Califórnia.

Ele atua há 25 anos com a cadeia pecuária e participa da mesa brasileira e global da pecuária sustentável. Além disso, é líder no Brasil da NWR, a National Wildlife Federation, ONG que atua no país desde 1986 na preservação das américas.

Durante a entrevista foi discutida a situação das áreas degradadas, preservação da Amazônia e a questão do carbono zero. Confira os destaques.

Produção

Um dos principais desafios que o Brasil e o mundo vem enfrentando é a demanda alimentar crescente dos últimos anos. Com uma previsão de que a humanidade chegue a 10 bilhões de pessoas até 2050, uma das perguntas que ficam é: como produzir mais sem agredir o ambiente?

Segundo Beduschi, isso é possível, principalmente restaurando as áreas degradadas que estão livres para uso.

“A gente tem uma produtividade que ainda pode aumentar mais, não só na pecuária, mas em outras atividades e até as conciliando, como, por exemplo, a integração lavoura pecuária floresta, que é algo que vem da Embrapa. Começa aqui no interior do estado de Goiás, em Ipameri, e hoje toma conta do Brasil inteiro. Se você tem bons exemplos no Brasil todo, então esse tipo de tecnologia pode aumentar a produtividade em termos de grãos, de quilos de carne produzido por hectare ano e ainda ajudar nas questões climáticas, sem abertura de novas áreas”, destaca.

Amazônia

Atuando na NWR, o engenheiro agrônomo comentou sobre os desafios que existem para manter a Floresta Amazônica em pé e também como tem sido a atuação da organização para ajudar a solucionar tudo isso.

“A gente começa em função do risco de perda não só de floresta, mas de biodiversidade e de tudo o que está envolvido. Os grandes desafios ali na Amazônia são vários, mas algumas das dificuldades são chegar até o produtor rural.  A gente tem que aprender a comunicar essas questões com o produtor rural e explicar pra ele de uma forma que ele entenda o papel importante que ele tem ali na produção de alimentos, mas também sua função na preservação ambiental. Temos que trabalhar a cadeia de valor como um todo para que a gente gradualmente suba o patamar em termos de sustento de produção sustentável.

Carbono zero

Por fim, Beduschi ressalta a importância de uma agricultura de carbono zero e de se olhar cada país de forma isolada na questão sustentável para que as suas metas possam ser atingidas.

“Então, hoje a gente tem grandes cientistas trabalhando essa questão do balanço de carbono no sistema agropecuário aqui no Brasil. Tem que pegar esses dados e ver como é que a gente aplica na prática nas fazendas, pra poder comunicar isso não só ao consumidor. A pecuária brasileira não é a mesma pecuária que você tem nos Estados Unidos ou no Canadá. E eu tive a oportunidade de visitar o Canadá. A atividade microbiológica no solo quase que é zero. Aqui no Brasil, não. A gente está em um país tropical, onde essa atividade microbiológica ela perdura durante o ano todo. Então, o balanço de carbono aqui é diferente. A gente tem que começar a fazer essas contas, nacionalizar isso aí e começar a comunicar melhor esse balanço da pecuária brasileira.” finaliza.