Entenda os principais pontos da proposta de rastreabilidade bovina entregue ao Mapa
O documento visa atender às demandas do mercado e da sociedade por carne bovina produzida de forma responsável, com rastreabilidade e menor impacto ambiental
A Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável e a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura entregaram nesta terça-feira (19) ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) uma proposta para uma política pública nacional de rastreabilidade individual bovina.
A proposta, construída em 2023 com amplo alinhamento setorial, visa atender às demandas do mercado e da sociedade por carne bovina produzida de forma responsável e com menor impacto ambiental.
“Rastreabilidade tornou-se um imperativo tanto do ponto de vista de mercado, como uma ferramenta fundamental para garantir a valorização de uma produção sustentável na agropecuária brasileira. A Força-tarefa Rastreabilidade e Transparência da Coalizão tem atuado para não só identificar gargalos, mas congregar esforços na busca de soluções. Por isso, faz todo o sentido apoiar uma proposta saída de um coletivo como a Mesa Brasileira e com tanta sinergia com os objetivos que pretendemos”, avalia Fernando Sampaio, cofacilitador da Coalizão Brasil.
A rastreabilidade individual permitirá o monitoramento de cada animal ao longo de sua vida, desde o nascimento até o abate, fornecendo informações sobre sua origem, manejo e sanidade.
Quais os principais pontos da proposta de rastreabilidade?
O documento entregue ao Ministério, visa estabelecer um sistema nacional obrigatório de identificação individual de bovinos, monitorando e mitigando o desmatamento ilegal, garantindo a origem dos animais destinados ao abate. Além disso, busca, também, desvincular a pecuária do desmatamento
“O objetivo é estabelecer uma Política Nacional de Rastreabilidade Individual obrigatória como avanço significativo em direção à pecuária sustentável, visando o controle sanitário e socioambiental do setor, promovendo transparência e responsabilidade na produção pecuária. Também, monitorar e mitigar possíveis contribuições para o desmatamento, identificando e responsabilizando práticas que ameacem ecossistemas naturais, promovendo a conformidade legal das propriedades e incentivando práticas socioambientais responsáveis,” diz o documento.
A proposta ainda visa assegurar que todos os animais destinados ao abate sejam 100% rastreados e monitorados ao longo de suas vidas, identificando e monitorando os animais, critérios sanitários e socioambientais, considerando toda a cadeia de fornecedores.
“Há alguns anos, essa questão já vem sendo discutida no Brasil e agora estamos enfrentando pressões externas muito fortes. Torna-se muito difícil atender a essas exigências sem ter um controle de rastreabilidade bem estabelecido no país.”, diz Aécio Flores, coordenador do GT de Rastreabilidade do MBPS.
Regras e obrigações
A implantação da rastreabilidade irá requerer a modernização da PGA e/ou SISBOV, campanhas de engajamento, treinamento e estruturação dos produtores, além de possuir algumas regras e obrigações.
Essas obrigações incluem a universalização da numeração oficial, o uso obrigatório dessa numeração em todos os protocolos, públicos ou privados, e a integração de uma base de dados nacional unificada.
Principais regras
- Universalização da numeração: substituir a numeração atual pela numeração 076 (ISO Brasil – PGA), gerenciada pelo Mapa, garantindo sua universalização.
- Uso obrigatório da numeração oficial: todos os protocolos, públicos ou privados, envolvendo identificação e rastreabilidade de bovinos, devem obrigatoriamente utilizar a numeração oficial prefixo 076 (ISO Brasil) e registrar no banco de dados oficial do Mapa.
- Base de dados Nacional Unificada: a gestão da numeração oficial e a validação dos critérios de controle de dados são fundamentais na inclusão de unidades de exploração pecuária, animais individualizados e movimentações, assegurando a conformidade com a legislação sanitária e ambiental brasileira.
- Integração da Guia de Trânsito Animal (GTA): a GTA deve integrar, via sistema, o vínculo dos animais identificados de forma individual com a numeração oficial 076 que nela foram transportados, garantindo o monitoramento na base unificada do Mapa.
Essas obrigações, segundo a proposta, visam padronizar e garantir a eficácia do sistema de monitoramento.
Governo e iniciativa privada
O papel do governo envolve a realização de campanhas de esclarecimento, determinação de regras para a numeração oficial, provisão de infraestrutura de sistemas e estabelecimento de incentivos e penalidades.
Além disso, o governo deve garantir a integração da Guia de Trânsito Animal (GTA) e disponibilizar bases de dados para consulta.
Outro ponto levantado pela proposta, é em relação aos prazos de implantação, a fim de explicar o processo educativo de transição até a plena obrigatoriedade e destacar as consequências da não conformidade.
O governo também deve determinar as regras para a utilização da numeração e o mecanismo de acesso universal e prover a infraestrutura de sistemas para o acesso à numeração e registro do animal individualizado vinculado à exploração pecuária.
“É dever do governo unificar as bases de consulta para dados sanitários, socioambientais e fundiários. Disponibilizar as bases de dados de consulta para protocolos privados, conforme a governança estipulada. Também, disponibilizar, junto ao cadastro da unidade de exploração, o status da propriedade a partir da base legal (Código Florestal). Além disso, deve ampliar os benefícios para animais rastreados e propriedades certificadas, como condições especiais para os produtores que demonstram a conformidade de seus rebanhos por meio da rastreabilidade individual de seus animais”, cita o documento.
O setor privado também desempenha um papel importante, garantindo transparência, propondo incentivos fiscais, criando campanhas de engajamento junto ao varejo e propondo mecanismos de bonificação financeira.
“É necessária a união público-privada a fim de prover incentivos fiscais ao governo, fomentando a produção de animais identificados e rastreados dentro dos requisitos sanitários e socioambientais. Outro ponto é em relação à criação de campanhas de engajamento junto ao varejo, destacando a valorização e diferenciação dos produtos rastreados para o consumidor nacional, além de observar os mercados importadores como União Europeia, Ásia e Oriente Médio”, cita a proposta.
O documento ainda propõe a criação de mecanismos de bonificação financeira a fim de estabelecer um bônus para animais que chegam ao abate com rastreabilidade e indicador de produção sustentável, incentivando a continuidade da identificação e rastreabilidade dos animais nascidos na propriedade.
De acordo com a Mesa de Pecuária Sustentável Brasileira, todas as medidas visam garantir uma transição suave e eficaz para a rastreabilidade individual na pecuária, promovendo a conformidade, transparência e sustentabilidade ao longo de toda a cadeia produtiva.
“Agora, não se trata apenas da vontade de cada entidade, mas sim da execução efetiva dessa tarefa de rastreabilidade, que é tão importante para o país”, diz Aécio.