
Em entrevista exclusiva ao Planeta Campo Talks, Silvia Fagnani, sócia da Allia Diplomacia Corporativa, compartilhou sua perspectiva sobre o papel do agronegócio brasileiro na COP 30, que será realizada em Belém, Pará, no final deste ano. A conversa abordou desde a estrutura do evento até a imagem do setor no cenário global, passando pelos desafios de infraestrutura e os movimentos estratégicos necessários para fortalecer a presença do Brasil nas negociações climáticas.
Desafios Logísticos da COP 30 em Belém
Com a chegada da COP 30 ao Brasil, muitas expectativas estão voltadas para a organização e a estrutura do evento, especialmente em Belém, cidade que sediará a conferência pela primeira vez. Silvia destacou os desafios logísticos que a cidade enfrentará, como a preparação de acomodações, transporte e infraestrutura, considerando o grande número de participantes esperados.
“Estamos em um cenário em que é difícil imaginar um evento como a COP 30 sem que a cidade tenha uma estrutura sólida para receber milhares de pessoas. Belém, por exemplo, enfrenta questões de infraestrutura que precisam ser rapidamente resolvidas. A cidade precisará de soluções criativas, como ônibus ecológicos, para garantir a mobilidade durante o evento”, disse Silvia.
A especialista mencionou ainda que, devido aos custos elevados das acomodações, algumas alternativas mais viáveis, como a reforma de prédios abandonados e o aluguel de barcos para eventos, estão sendo exploradas. No entanto, isso não é o suficiente para atender à demanda de participantes esperados.
O Agronegócio Brasileiro e a COP 30
A entrevista também abordou o protagonismo do agronegócio brasileiro na COP 30. Silvia falou sobre as críticas que o setor enfrentará, principalmente relacionadas ao desmatamento e ao uso de agrotóxicos. Ela explicou que, embora o agronegócio seja frequentemente apontado como vilão, ele não é o principal responsável pelos problemas ambientais enfrentados pelo Brasil.
“O setor de agronegócio é muitas vezes injustamente associado ao desmatamento, mas a realidade é bem mais complexa. Existe a grilagem de terras, o garimpo ilegal e até incêndios espontâneos que impactam o meio ambiente. O agro brasileiro é altamente competitivo e sustentável, mas é importante que a indústria se posicione de maneira proativa e transparente”, afirmou Fagnani.
Ela também ressaltou a importância da comunicação efetiva do setor, uma vez que as iniciativas positivas, como o uso de biocombustíveis e energia limpa, ainda são mal compreendidas pela sociedade e pelo mundo. O setor precisa reconhecer os desafios ambientais e se comprometer com ações concretas para reduzir seu impacto, destacou a especialista.
O Papel das Empresas e do Setor Privado
No contexto da COP 30, Fagnani acredita que as empresas privadas terão um papel fundamental em promover soluções práticas para os problemas ambientais e em ajudar a construir uma narrativa mais positiva sobre o agronegócio. “O setor privado precisa estar presente e mostrar suas iniciativas de forma clara. Não podemos esperar que apenas os governos resolvam as questões climáticas. A liderança também deve vir das empresas”, disse Silvia.
Para ela, a participação ativa do Brasil na COP 30 vai além da preservação da Amazônia. “O Brasil é um exemplo global quando se trata de energia limpa, com a produção de etanol, biocombustíveis e energia hidrelétrica. Além disso, o país está avançando no uso de fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica”, destacou.
Silvia ainda reforçou a importância de envolver as empresas no processo de negociação, já que elas são as principais responsáveis pela implementação das soluções e pela adaptação às novas regulamentações ambientais. “O setor agropecuário precisa não apenas defender suas práticas, mas também mostrar que está comprometido com a sustentabilidade de maneira concreta”, completou.
Expectativas para o Futuro
Com a crescente pressão sobre o setor de agronegócio para que adote práticas mais sustentáveis, Silvia acredita que a COP 30 será uma excelente oportunidade para reforçar a imagem positiva do Brasil e de sua indústria agrícola. Contudo, ela também alertou para os desafios geopolíticos que surgem, principalmente com a presença de países como os Estados Unidos e a China, que têm interesses econômicos divergentes.
“A COP 30 será um marco para o Brasil, mas também trará desafios, principalmente na relação com outros grandes players do setor energético e ambiental. O agro precisa mostrar que tem soluções e que está comprometido com o futuro do planeta”, concluiu Silvia Fagnani.
A entrevista foi uma oportunidade valiosa para discutir não apenas as perspectivas do agronegócio na COP 30, mas também a responsabilidade do Brasil em proteger seus recursos naturais enquanto alavanca seu potencial de desenvolvimento sustentável. O programa Planeta Campo segue acompanhando as preparações para a COP 30 e continuará trazendo informações sobre como o Brasil e o setor privado se preparam para esse evento crucial.