Pesquisa da FGV demonstra potencial de redução de emissões na pecuária
De acordo com os dados, para cada cabeça presente no sistema ILPF (com lavoura, pecuária e floresta) haveria a compensação das emissões de outras 3,2 cabeças em pastagens
O estudo “Potencial de Mitigação de Gases de Efeito Estufa das Ações de Descarbonização da Pecuária até 2030”, lançado pelo Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), demonstra resultados que podem ser alcançados com manejos sustentáveis e melhor aproveitamento de recursos na cadeia produtiva – de forma que seja possível produzir a mesma quantidade de carne com um rebanho menor, que ocupe menos espaço e torne viável a ampliação da remoção de carbono.
Eduardo Delgado Assad, Camila Genaro Estevam, Cícero Zanetti de Lima, Eduardo de Moraes Pavão, Talita Priscila Pinto são os responsáveis pela pesquisa. Considerando a evolução recente, a área total de pastagem no país em 2030 poderia ser 3,7% menor que em 2018, da ordem de 164,3 milhões de hectares. Haveria, assim, a liberação de 6,5 milhões de hectares. Haveria, assim, a liberação de 6,5 milhões de hectares para diferentes usos.
Paralelamente, seriam recuperados 27,5 milhões de hectares de pastos degradados, e a soma dessas tendências poderia oferecer ganhos de produtividade ao rebanho bovino – que atingiria uma taxa de lotação de 1,27 cabeça por hectare – e resultar em uma remoção líquida total de carbono de 1,224 bilhão de toneladas de CO2 equivalente. “Além disso, o excedente de mitigação poderia compensar uma parcela das emissões diretas e indiretas provenientes de outras atividades agropecuárias”, afirma o estudo.
Segundo os autores, se nesses 6,5 milhões de hectares que poderão ser liberados até 2030 com o adensamento da pecuária forem adotados sistemas de integração de lavoura-pecuária-floresta, a taxa de lotação ficará em 2,5 cabeças por hectare e haveria um acúmulo de 36 milhões de toneladas de CO2 equivalente no solo, “volume mais do que suficiente para neutralizar as emissões do rebanho bovino presente nessa área”, afirmam. “O balanço final das emissões provenientes desse sistema atingiria uma mitigação de 86,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Vale ressaltar que a tecnologia ILPF potencializa a capacidade de descarbonização do setor agropecuário quando associado a outras tecnologias, como recuperação de pastagens degradadas”.
O estudo reforça que a tecnologia ILPF apresenta grande potencial de adoção e mitigação de gases de efeito estufa, e que o sistema agrega renda de forma sustentável sem geração de passivo ambiental. “A produção animal proveniente do sistema ILPF seria carbono neutro – ou seja, os componentes de solo e floresta são capazes de mitigar as emissões de metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) do rebanho bovino e, adicionalmente, permitem compensar uma parcela de metano emitido pelo rebanho presente em sistemas convencionais de pastagem”.
Além disso, o documento demonstrou que haveria a compensação das emissões de 51,8 milhões de cabeças que estariam em sistemas convencionais. Assim, 32,6% do rebanho nacional (68,2 milhões de cabeças) poderia ser considerado carbono neutro. “Isso significa que, para cada cabeça presente no sistema ILPF (com lavoura, pecuária e floresta) haveria a compensação das emissões de outras 3,2 cabeças em pastagens”.
Na prática, os resultados podem até ser melhores, já que o Brasil está implantando cada vez mais o ILTF. Os números apresentados, portanto, apontam qual seria o benefício adicional do cenário projetado. E quanto maior a redução alcançada pelos bovinos, melhor, uma vez que dados de 2019 indicam que a agropecuária é responsável por 28% das emissões totais de gases de efeito estufa no país.