Produtor no Pará adota sistemas agroflorestais para impulsionar produção de cacau

Os sistemas agroflorestais visam não apenas aumentar a produção de cacau, mas também preservar o que a floresta já oferece

No coração de um dos maiores assentamentos de pequenos produtores da América Latina, no Pará, árvores de cacau crescem em harmonia com a vegetação nativa.

Francisco Pereira Cruz, um produtor rural, transformou sua plantação de cacau em um modelo de produção sustentável, adotando os chamados sistemas agroflorestais. Essa abordagem inovadora combina a conservação da vegetação nativa com o cultivo de culturas agrícolas.

O produtor rural, destaca os benefícios dessa prática.

“A gente tem a oportunidade de vender alguns produtos das lavouras que estão crescendo aqui. Temos plantio de manga, abacabeiras, açaí. Isso ajuda bastante, e nosso foco é aumentar a produção.”

Sistemas agroflorestais e cacau

Cacau, Sistemas Agroflorestais

Foto: Canva/MagicMedia

Os sistemas agroflorestais visam não apenas aumentar a produção de cacau, mas também preservar o que a floresta já oferece. O cultivo em conjunto com as árvores nativas traz diversos benefícios, como explica Mariana Pereira, gerente de programas na Fundação Solidaridad.

“Temos também as espécies nativas florestais que plantamos, como Cumaru, andiroba, tapera, bar Tátá, juba, que são essenciais para a saúde das culturas, evitando pragas e doenças”, diz Pereira.

Com seis mil pés de cacau em sua fazenda, o manejo com sombreamento melhora a produtividade dos frutos e permite a restauração de áreas degradadas.

Os sistemas agroflorestais otimizam o uso da terra, conciliando a preservação da vegetação com a produção de alimentos. Mariana Pereira  gerente de programas na Amazônia da Fundação Solidaridad explica.

“Um dos primeiros benefícios que se tornam evidentes nos primeiros meses após a implementação desse projeto nas entrelinhas dos pés de cacau é a colheita de culturas anuais, como milho, abóbora e feijão, por parte dos produtores. Em poucos meses, eles já estão colhendo esses alimentos, que representam uma fonte de subsistência para suas famílias, contribuindo significativamente para a segurança alimentar dessas comunidades.”

No estado do Pará, a restauração produtiva com sistemas agroflorestais, tendo o cacau como carro-chefe, é reconhecida como uma técnica para regularização ambiental de propriedades desde 2019. Mariana ressalta.

“Ter uma restauração produtiva é uma das únicas alternativas de incluir esses produtores na agenda da regularização ambiental pensando que, talvez, uma regeneração não fosse viável de ser implantada em áreas tão pequenas”.

RestaurAmazônia

Desmatamento, Amazônia

Foto: Agência Brasil

A assistência técnica desempenha um papel essencial nesse processo e é fornecida pelo projeto RestaurAmazônia, da Fundação Solidaridad, apoiado pelo Fundo JBS pela Amazônia. O programa visa atender 1.500 famílias em municípios da região da Transamazônica paraense e preservar mais de 20 mil hectares de vegetação nativa, com a meta de reduzir a taxa de desmatamento em 50% até 2026.

Andrea Azevedo, diretora-executiva do Fundo JBS pela Amazônia, destaca os benefícios.

“Esse tipo de iniciativa gera impactos significativos em diversas áreas, começando pelo aspecto ambiental. A redução da pressão pelo desmatamento é notável, já que os produtores passam a produzir mais em suas áreas já existentes, eliminando a necessidade de buscar novas terras. Isso resulta em uma recuperação da produtividade dessas áreas, beneficiando o meio ambiente.

Ela continua, “do ponto de vista socioeconômico, os benefícios também são notáveis. Os produtores experimentam um aumento de renda, o que lhes proporciona acesso a tecnologia, melhores condições de vida, saúde e educação. Esse aumento de renda chega a cerca de 30% por família, o que impacta positivamente em diversos aspectos das suas vidas. Esse modelo de negócio bem-sucedido cria uma base sólida para a obtenção de outros benefícios e melhorias em várias esferas da vida das famílias envolvidas.”

Seu Francisco, ao adotar os sistemas agroflorestais, investiu em um modelo de negócios que permitiu que sua família prosperasse, destacando o potencial econômico da produção sustentável de cacau.

“Para nós, o cacau permitiu que duas famílias trabalhassem em 5 hectares de terra, algo que a pecuária não possibilitaria.”

A combinação de produção de cacau e conservação da floresta destaca o compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental na região do Pará. O projeto RestaurAmazônia demonstra que a agricultura pode prosperar, ao mesmo tempo em que protege a floresta tropical.